sexta-feira, 24 de julho de 2009

Bico dos tucanos funciona como radiador

Estudo revela que o tamanho aparentemente desproporcional é essencial no controle da dissipação de calor

Maria Guimarães
Edição Online


Pesquisa FAPESP - O bico dos tucanos, que chega a metade da superfície total do corpo, é o que mais chama atenção nessas aves. Normalmente considerado uma ferramenta para descascar frutos ou atacar ninhos, um estudo publicado na revista Science desta semana desvenda uma nova possível função para o bico do tucano: ele dissipa calor. É um dos mais eficientes radiadores do reino animal.

Os tucanos da espécie Ramphastos toco foram estudados no campus de Rio Claro da Universidade Estadual Paulista (Unesp) pelos zoólogos Augusto Abe e Denis Andrade, em colaboração com o canadense Glenn Tattersall, da Universidade Brock. Os três integram o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Fisiologia Comparada, uma parceria entre a FAPESP e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

“A ideia surgiu de uma foto de um tucano-araçari dormindo”, conta Abe. Por que eles cobririam o bico? O grupo filmou tucanos com uma câmera infravermelha capaz de gerar imagens térmicas com grande riqueza de detalhes em um espectro que vai do amarelo para regiões mais quentes até azul, para as frias. Em dias quentes, o sangue flui à vontade no bico altamente vascularizado, que fica quente segundo as imagens térmicas. Quando está frio, o fluxo de sangue é reduzido e o calor – precioso nessa situação – não se perde. A circulação sanguínea no bico entra também em ação depois de um voo, eliminando o excesso de calor produzido. Conforme a ocasião, o bico pode dissipar entre 25% e 400% de todo o calor produzido por tucanos em condições de repouso.

Mas há uma diferença conforme a idade. A fisiologia dos adultos tem um bom controle da circulação de sangue no bico, de maneira que eles podem modular a quantidade de calor dissipado de acordo com as condições do ambiente. Já as aves jovens, cujos bicos ainda não terminaram de se desenvolver, perdem quantidades consideráveis de calor mesmo quando não convém.

A descoberta pode ser central para entender a distribuição, a ecologia e o comportamento dos tucanos. E de outras aves também: embora nelas o bico represente uma proporção menor da superfície do corpo, é provável que os mesmos processos estejam em ação.
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Nota do blog Desafiando a Nomenklatura Científica: Mais um exemplo de 'seleção sexual' -- bico bonito para atrair as fêmeas que vai para a lata do lixo da História da Ciência. "Sniff, sniff, sniff" (Darwin ao saber da notícia).

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