Harold W. Clark - tem o grau de Master of Arts pela Universidade da Califórnia (1933) na área de Zoologia. Durante 35 anos foi Chefe do Departamento de Biologia do Pacific Union College em Angwin, Califórnia. Escreveu diversos livros sobre o Criacionismo, publicados desde 1929. Foi eleito recentemente presidente de uma nova organização criacionista, a “Life Origins Foundation”, destinada a produzir auxílios visuais para o ensino do Criacionismo.
Desde o início dos registros históricos o homem tem-se preocupado com os grandes mistérios da existência: como se originaram a Terra e a vida, que relação mantém a Terra com o restante do Universo, e como foi estabelecida essa relação? Duas filosofias foram desenvolvidas - a Cosmologia, que tenta descrever o Universo no espaço e no tempo, e a Cosmogonia, que tenta resolver os problemas da origem, da natureza e do propósito do cosmos.
O propósito deste artigo é discutir as questões acima à luz das modernas descobertas científicas e do relato do livro de Gênesis, e ver que conclusões podem ser atingidas, aceitáveis ao cristão estudioso da Ciência. Tanto tem sido escrito sobre Cosmologia e Cosmogonia da época medieval e da antigüidade, que dificilmente seria necessário abordar algo dessa fase, exceto para ressaltar rapidamente a influência que essas idéias tiveram na moderna interpretação científica.
Ao se tornar o Cristianismo o fator dominante no pensamento do mundo ocidental, sua filosofia básica estava fundada sobre o relato de Gênesis, que estabelecia três princípios fundamentais: (1) que Jeová havia criado os céus e a Terra, (2) que este mundo e as formas viventes foram feitos em seis dias, e (3) que a maior parte da Terra foi destruída por um dilúvio universal.
Em oposição a essa concepção, várias nações pagãs tinham suas cosmogonias, nenhuma das quais se mostrou de qualquer significado real na solução dos grandes problemas da existência, tanto da Terra quanto da vida sobre ela.
Tivessem os defensores do Cristianismo se apegado firmemente ao relato da criação do livro de Gênesis e teria havido um desenvolvimento da ciência moderna com uma orientação bem diferente da que realmente teve. Mas quando Agostinho e outros teólogos introduziram na teologia cristã certas idéias gregas a respeito da origem da Terra e da vida nos quarto e quinto séculos a.D., resultou um dualismo que teve grande influência no desenvolvimento da moderna filosofia científica. De um lado ficou a doutrina da criação baseada numa interpretação literal do relato de Gênesis, e do outro a idéia de longas épocas de progresso evolutivo.
Início da Ciência Moderna
Para compreender como esses dois pontos de vista conflitantes influenciaram a filosofia do século XX, devemos abordar o que poderia ser considerado como o início do moderno pensamento científico - a obra de Isaac Newton. Os seus estudos sobre a gravitação estabeleceram os fundamentos da Mecânica Celeste. Ao invés de se acreditar como anteriormente, que os movimentos dos corpos celestes se davam ao acaso, compreendeu-se depois de Newton que todos eles estavam sob o controle de leis, e que ordem e regularidade prevalecem no universo todo. O completo desenvolvimento da ciência moderna é considerado como tendo início com a publicação dos Princípios de Newton, em 1687. Os seus princípios matemáticos, como estabelecidos nessa famosa obra, guiaram os homens de ciência a partir daquela época, à medida em que se ampliou a busca do conhecimento natural.
O astrônomo inglês, William Herschel seguiu as pegadas de Newton, e tornou-se o fundador da Astronomia Sideral. Algumas das suas descobertas tiveram profunda influência na moderna Cosmologia. Seu trabalho foi feito entre 1780 e 1822, aproximadamente um século após Newton.
O seu trabalho sobre a Via Láctea levou à conclusão de que o Sol se situa perto do centro de um disco de estrelas achatado, com um raio de 2000 parsecs (um parsec equivale a 3,26 anos-luz, isto é, 3,26 vezes à distância que a luz percorre em um ano) ao longo da sua menor dimensão, e cerca de 30000 parsecs ao longo da sua maior dimensão.
Herschel descobriu nebulosas, compilando uma lista de 2500 delas. Sugeriu ele a idéia de “universos ilhas”, mas as suas idéias eram tão avançadas para o pensamento de sua época que somente cerca de 100 anos depois a sua interpretação foi aceita. Não foi antes de 1924 que as nebulosas foram reconhecidas como sendo galáxias, o que se deveu muito ao trabalho de E. P. Hubble dos observatórios de Monte Wilson e Palomar, que achou evidências de estrelas muito além de nossa galáxia e, fazendo levantamento das nebulosas achou-as distribuídas em todas as direções. A partir de um estudo de muitos milhares de fotografias, derivou ele uma classificação significativa de outras galáxias além da Via Láctea.
O telescópio de 200 polegadas de Palomar com o qual Hubble trabalhou, atinge agora um bilhão de galáxias, algumas das quais distam da Terra um bilhão de anos-luz. A busca de um centro para o Universo deslocou-se da Terra para o Sol; depois, quando o Sol se tornou somente um pequeno membro da galáxia da Via Láctea, a busca deslocou-se para o imenso Universo além, pois a própria Via Láctea mostrou-se como somente uma dentre um grande número de enormes galáxias. [Ver a Folhinha Criacionista nº 2, encarte da Folha Criacionista nº 57].
Origem do Universo
Sugestões têm sido feitas de que a matéria se originou sob a influência de um grande número de fatores significativos, como por exemplo: (1) a presença de altas temperaturas, (2) a presença de nêutrons, prótons e elétrons, (3) progressiva agregação de partículas de matéria à medida em que se deu sua formação, e (4) formação extremamente rápida de elementos, provavelmente na sua primeira meia-hora de existência.
Interessantes como possam ser, tais sugestões falham na resposta a uma questão vital: a fonte desses vários fatores. De onde se originaram os nêutrons, prótons e elétrons livres? Que forças estiveram em ação para obrigá-los a unir-se para a formação da matéria? Até que essas questões possam ser respondidas, não estaremos mais perto de uma explicação da origem da matéria do que estávamos antes.
Não somente isso é verdade, mas para aumentar a dificuldade, muitas estrelas não se enquadram na seqüência de acontecimentos posteriores que supostamente levaram à atual composição do Universo. Hoyle sugeriu que os elementos mais pesados se formaram em supernovas e depois se dispersaram. Mesmo assim há muito poucas dessas supernovas para explicar os elementos mais pesados de nossa galáxia.
Muitas hipóteses têm surgido para explicar a origem do Universo. A mais antiga delas, com certa importância, foi proposta pelo matemático francês Laplace. Mas a sua única evidência real é a forma das nebulosas, exigindo mesmo assim muitas explicações, o que a torna sem nenhum valor real.
Em 1904, o geólogo T. C. Chamberlain e o astrônomo F. R. Moulton apresentaram a hipótese planetesimal. Gás incandescente emanado do Sol, sugeriam eles, resfriava-se e congelava-se no espaço exterior para formar pequenas partículas ou planetésimos. No decorrer do tempo muitas dessas partículas supostamente se agregavam para formar os atuais planetas.
Essa hipótese esbarrou com tantas dificuldades que atualmente é considerada de nenhum valor. Somente para mencionar uma dificuldade: ela falha na explicação da composição da Terra, com o seu núcleo de ferro e níquel e o seu manto e crosta de tipos completamente diferentes.
Uma sugestão mais recente é que partículas de poeira espalhadas no espaço deveriam ter sido submetidas à ação da pressão da luz proveniente das estrelas e assim obrigadas a se agregar, em seguida formando o Sol. Mas isso não explica a origem das partículas de poeira, nem das estrelas.
É bastante óbvio, ao estudarmos essas várias hipóteses, que todas elas partem da suposição de existência de alguma espécie de partículas, sejam de matéria ou de energia, mas nenhuma delas pode explicar como ou de onde essas partículas vieram à existência. Esse é um problema inescrutável!
Diferentes Origens para o Universo
Atualmente duas teorias (melhor chamadas de hipóteses, pois elas não atingiram realmente o padrão exigido para uma verdadeira teoria) atraem considerável atenção. Uma hipótese é chamada de teoria do “ponto- fonte”, ou mais comumente a teoria do “big-bang”. Seus defensores supõem a repentina formação do Universo a partir de uma pequena massa. Aceita-se que essa massa tem estado em expansão e que quando novos corpos se formam, eles de deslocam do centro do Universo com uma elevadíssima velocidade. A outra hipótese, a teoria do “estado-permanente”, supõe que o Universo seja estacionário. O deslocamento para o vermelho sobre o qual se apoia a idéia de um Universo em expansão, não significa expansão, dizem os advogados da teoria do estado-permanente. Pelo contrário, nova matéria está sendo criada no espaço exterior, e é essa nova matéria que dá a aparência de expansão. Em 1948 Hoyle e outros propuseram que a taxa da suposta expansão é igual à taxa da criação de novas galáxias.
Não é muito difícil, mediante o exame dessas hipóteses, reconhecer que elas se baseiam em fundamentos que são igualmente tão instáveis quanto quaisquer outros que foram propostos anteriormente. Todo o conteúdo da Cosmologia é simplesmente objeto de especulação, mas por enquanto todas essas especulações permanecem no estágio de hipóteses.
A Mecânica Quântica reduziu as propriedades dos átomos a relações de energia entre vários fatores, tais como gravitação, magnetismo etc. Dessa maneira a Física Moderna ligou a existência da matéria com a energia. Trabalhos sobre desintegração atômica modificaram o velho conceito da matéria formada do nada, transformando-o em criação de matéria a partir de energia.
Isso deixa ainda sem resposta o problema da fonte de energia ter-se organizado em matéria. É a matéria somente uma organização acidental, ou requereu ela a direção de um Criador inteligente? Qualquer pessoa familiarizada com a complexidade e com a organização sistemática dos compostos químicos acha extremamente difícil acreditar que tudo surgiu acidentalmente.
E o que dizer sobre “energia livre”? Pode ela existir sem fonte alguma? Tanto quanto saibamos, a energia deve provir de alguma fonte; ela não existe livre no espaço. E se ela deve ter uma fonte, ou mesmo se ela puder existir livre, poderia ela ter construído este complicado Universo sem uma direção inteligente? Essas são perguntas que os cientistas não puderam responder até o presente.
Com todas essas hipóteses, quão mais próximos estamos da solução final da origem da Terra e dos corpos celestes? Temos duas abordagens para o problema - A Bíblia, e a especulação imaginosa dos cientistas.
A Bíblia claramente declara a fonte final de toda a existência nas seguintes palavras:
“Pela palavra de Deus os céus foram feitos ... pois Ele falou e logo tudo se fez” (Salmo 33:6,9).
“Pois por Ele todas as coisas foram criadas ... e Nele todas as coisas subsistem” (Colossenses 1:16, 17).
“Sustentando todas as coisas pela palavra de Seu poder” (Hebreus 1:3).
Aqui, ao invés de vagas especulações, temos afirmações positivas, na realidade as únicas afirmações positivas sobre o assunto. A revelação fornece aquilo que os métodos científicos não podem possivelmente revelar.
A declaração de Gênesis 1:1 estabelece um profundo princípio que os cientistas não têm conseguido abolir, nem substituir por algo melhor, a despeito de todo o novo conhecimento do Universo trazido à luz nos últimos séculos.
Consideração de Antigos Relatos sobre o Tempo
Até agora temos considerado o mundo no espaço, mas volvamos em seguida à questão do tempo.
O que dizer com relação ao elemento tempo na Criação? Poderemos aprender algo da investigação científica, ou deve o tempo, como o espaço, ser compreendido somente pela aceitação da revelação da Palavra de Deus?
Antigos relatos referentes ao tempo são vagos e difíceis de coordenar com as escalas de tempo científicas. Poucos exemplos demonstrarão esse fato.
A legendária história chinesa volve a 2700 a.C., mas a cronologia autêntica data somente de 1300 a.C. Isso, portanto, não nos ajuda na determinação da idade da Terra.
A história hindu iniciou-se no terceiro século a.C. Os seus sábios desenvolveram um sistema de ciclos dos corpos celestes que marcariam o começo de todas as coisas. A data a que chegaram foi 4.320.000 antes de nossa época. Obviamente isso é puramente teórico, e de nenhum valor para resolver nosso problema.
A tradição e a mitologia egípcia tornam impossível recobrar muito da pré-história daquela nação. A primeira dinastia de Menes, um monarca tradicional, é apresentada na edição de 1966 da Enciclopédia Britânica como datando de 3100 a.C. Isso é muito mais recente do que as cronologias mais antigas de datas egípcias, e não está muito longe das estimativas criacionistas aceitáveis.
Antes da primeira dinastia, o “período” Paleolítico é estimado como datando de cerca de 4500 a.C. Isso se baseia somente na hipótese uniformista, que supõe que o homem Paleolítico surgiu do primitivismo através de lentos estágios. Aquele período de tempo pode entretanto ter sido muito menor. Da primeira até a décima segunda dinastia os registros são muito fragmentários, e podem estar sujeitos a maiores alterações do que geralmente aceito pelos arqueólogos.
As primeiras dinastias egípcias foram listadas por Manetho, um sacerdote egípcio, por volta de 300 a.C., que escreveu uma História Egípcia para Ptolomeu I. Somente porções fragmentárias dos seus escritos são achadas em Josefo e outros escritores. Algumas das dinastias do Alto e Baixo Egito podem ter se superposto, e se isto aconteceu, o tempo deveria ser abreviado.
Os registros babilônicos iniciam-se em torno de 2000 a.C., o que está perfeitamente dentro dos tempos bíblicos históricos. Os registros gregos mais antigos datam de cerca de 1250 a.C., e os romanos de cerca de 750 a.C., não sendo portanto de nenhum valor para a solução do problema da idade da Terra.
O Tempo baseado em Gênesis
Relativamente ao tempo anterior à semana da criação de Gênesis Capítulo 1, não há registros válidos da vida sobre a Terra – nada, a não ser especulação. Portanto, o único tempo que os cristãos podem razoavelmente aceitar, na base de registros escritos, situa-se entre 4000 e 5000 a.C., se desejarmos permanecer fiéis ao relato de Gênesis. Somente poucos séculos seriam necessários para ajustar essas datas à cronologia egípcia.
Os geólogos, na realidade, não concordariam com essa conclusão, pois eles acham que evidências nas rochas mostram não ser defensável o relato de Gênesis. Deve ser lembrado, porém, que a teoria de prolongadas idades geológicas é sujeita a sérias objeções, o que entretanto não é o escopo deste artigo.
Um problema que devemos reconhecer é o do surgimento dos grandes impérios da antigüidade antes da aurora da história escrita, na época de Abraão. Muitos têm-se perguntado como poderiam tais grandes nações desenvolver-se em tão curto intervalo de tempo? Na resposta a essa questão, devemos ressaltar que naquela época a raça humana era muito prolífica e a taxa de mortalidade natural baixa; não devemos raciocinar em termos da atual taxa de crescimento demográfico.
Assim, ao considerar a rápida multiplicação da população nos primeiros anos da história terrestre e ao olhar a população dos Estados Unidos dentro dos últimos 300 anos, começamos a compreender que não são necessários tantos milhares de anos, como freqüentemente suposto, para se passar do dilúvio ao tempo de Abraão. Na verdade, a Idade de Bronze é colocada entre 2100 a.C. e 1500 a.C., e as Idades da Pedra são datadas por alguns arqueólogos em torno de 10000 a.C. Entretanto, como já afirmado, os estudiosos cristãos não se obrigam a aceitar como válidas essas datas.
Outras questões relativas ao tempo, mudança uniforme
Dois pontos devem ser mantidos em mente. Primeiro, a teoria das glaciações múltiplas está sendo desafiada por competentes autoridades, e especialistas têm sugerido seriamente que os primeiros três “períodos” glaciais são somente evidências de várias fases da única verdadeira época glacial, a Wisconsin. Então, se considerarmos o dilúvio há 2500 ou possivelmente há 3000 anos antes de Cristo, teremos mil anos entre essa época e o primeiro porto marítimo do qual se tem conhecimento, o da antiga Tiro. Esse problema é um dos que necessita estudo, mas há soluções possíveis bem dentro dos limites de tempo permitidos pela atual compreensão da narrativa bíblica.
Uma revisão cuidadosa de todas as genealogias e cronologias dos tempos antigos indica que o mais velho e mais completo registro encontra-se na Bíblia. Ninguém está apto a dar prova positiva contra o relato de Gênesis e os seus elementos referentes ao tempo. É verdade que não podemos reduzir o tempo exatamente, mas podemos confiar que o tempo da criação pode ser localizado dentro de limites bastante estreitos.
Compreendemos que alguns criacionistas, embora rejeitando totalmente a teoria evolucionista, mantêm ainda que a criação deve ter tido lugar há 30.000 ou 100.000 anos atrás, alguns mesmo sugerindo milhões de anos. Mas esses pontos de vista não são mais defensáveis ao criacionista conservador do que aos evolucionistas, no que se refere ao tempo envolvido. O principal problema desses teóricos é que eles sentem que deve ter havido mais tempo do que o permitido no relato de Gênesis para possibilitar todas as alterações geológicas que parecem ter tido lugar entre o dilúvio e o começo da história escrita.
Esses criacionistas confundem-se ao tentar explicar as idades geológicas na base de uma ação mais ou menos uniforme. Podem reconhecer que o dilúvio foi responsável por algumas alterações geológicas, mas falham em compreender as enormes proporções da violência, que devem ter perdurado por muitas centenas de anos. Essas pessoas poderiam ser designadas como criacionistas “de tempo extenso” ou “criacionistas uniformistas”. O seu principal problema é raciocinar demasiadamente em termos da atual taxa de modificação. Crêem na criação, mas confundem-se na questão relativa ao tempo por não poderem conceber processos muito diferentes dos que observam agora.
O problema da datação radioativa é discutido por outras autoridades nestes “Anais”. Portanto simplesmente desejo lembrar que as alegações postas em jogo naquele campo não são muito convincentes, pois há muitas hipóteses não testadas e não testáveis, na base dos métodos envolvidos.
Em conclusão, o que podemos realmente saber sobre a Terra no espaço e no tempo? Com relação ao espaço, sabemos bastante, pois o nosso conhecimento do Universo expandiu-se tremendamente nos últimos quatrocentos anos. Mas com relação ao tempo, não sabemos absolutamente nada sobre a origem do restante do Universo, pois o relato de Gênesis trata somente da criação desta Terra, e os cientistas não têm apresentado nada mais do que hipóteses vagas e impossíveis. Podemos, portanto, concluir que o relato bíblico da criação da Terra há somente alguns milênios é ainda válido, pois nada que a pesquisa científica tem trazido à luz pode desaprovar aquele relato.
Desde o início dos registros históricos o homem tem-se preocupado com os grandes mistérios da existência: como se originaram a Terra e a vida, que relação mantém a Terra com o restante do Universo, e como foi estabelecida essa relação? Duas filosofias foram desenvolvidas - a Cosmologia, que tenta descrever o Universo no espaço e no tempo, e a Cosmogonia, que tenta resolver os problemas da origem, da natureza e do propósito do cosmos.
O propósito deste artigo é discutir as questões acima à luz das modernas descobertas científicas e do relato do livro de Gênesis, e ver que conclusões podem ser atingidas, aceitáveis ao cristão estudioso da Ciência. Tanto tem sido escrito sobre Cosmologia e Cosmogonia da época medieval e da antigüidade, que dificilmente seria necessário abordar algo dessa fase, exceto para ressaltar rapidamente a influência que essas idéias tiveram na moderna interpretação científica.
Ao se tornar o Cristianismo o fator dominante no pensamento do mundo ocidental, sua filosofia básica estava fundada sobre o relato de Gênesis, que estabelecia três princípios fundamentais: (1) que Jeová havia criado os céus e a Terra, (2) que este mundo e as formas viventes foram feitos em seis dias, e (3) que a maior parte da Terra foi destruída por um dilúvio universal.
Em oposição a essa concepção, várias nações pagãs tinham suas cosmogonias, nenhuma das quais se mostrou de qualquer significado real na solução dos grandes problemas da existência, tanto da Terra quanto da vida sobre ela.
Tivessem os defensores do Cristianismo se apegado firmemente ao relato da criação do livro de Gênesis e teria havido um desenvolvimento da ciência moderna com uma orientação bem diferente da que realmente teve. Mas quando Agostinho e outros teólogos introduziram na teologia cristã certas idéias gregas a respeito da origem da Terra e da vida nos quarto e quinto séculos a.D., resultou um dualismo que teve grande influência no desenvolvimento da moderna filosofia científica. De um lado ficou a doutrina da criação baseada numa interpretação literal do relato de Gênesis, e do outro a idéia de longas épocas de progresso evolutivo.
Início da Ciência Moderna
Para compreender como esses dois pontos de vista conflitantes influenciaram a filosofia do século XX, devemos abordar o que poderia ser considerado como o início do moderno pensamento científico - a obra de Isaac Newton. Os seus estudos sobre a gravitação estabeleceram os fundamentos da Mecânica Celeste. Ao invés de se acreditar como anteriormente, que os movimentos dos corpos celestes se davam ao acaso, compreendeu-se depois de Newton que todos eles estavam sob o controle de leis, e que ordem e regularidade prevalecem no universo todo. O completo desenvolvimento da ciência moderna é considerado como tendo início com a publicação dos Princípios de Newton, em 1687. Os seus princípios matemáticos, como estabelecidos nessa famosa obra, guiaram os homens de ciência a partir daquela época, à medida em que se ampliou a busca do conhecimento natural.
O astrônomo inglês, William Herschel seguiu as pegadas de Newton, e tornou-se o fundador da Astronomia Sideral. Algumas das suas descobertas tiveram profunda influência na moderna Cosmologia. Seu trabalho foi feito entre 1780 e 1822, aproximadamente um século após Newton.
O seu trabalho sobre a Via Láctea levou à conclusão de que o Sol se situa perto do centro de um disco de estrelas achatado, com um raio de 2000 parsecs (um parsec equivale a 3,26 anos-luz, isto é, 3,26 vezes à distância que a luz percorre em um ano) ao longo da sua menor dimensão, e cerca de 30000 parsecs ao longo da sua maior dimensão.
Herschel descobriu nebulosas, compilando uma lista de 2500 delas. Sugeriu ele a idéia de “universos ilhas”, mas as suas idéias eram tão avançadas para o pensamento de sua época que somente cerca de 100 anos depois a sua interpretação foi aceita. Não foi antes de 1924 que as nebulosas foram reconhecidas como sendo galáxias, o que se deveu muito ao trabalho de E. P. Hubble dos observatórios de Monte Wilson e Palomar, que achou evidências de estrelas muito além de nossa galáxia e, fazendo levantamento das nebulosas achou-as distribuídas em todas as direções. A partir de um estudo de muitos milhares de fotografias, derivou ele uma classificação significativa de outras galáxias além da Via Láctea.
O telescópio de 200 polegadas de Palomar com o qual Hubble trabalhou, atinge agora um bilhão de galáxias, algumas das quais distam da Terra um bilhão de anos-luz. A busca de um centro para o Universo deslocou-se da Terra para o Sol; depois, quando o Sol se tornou somente um pequeno membro da galáxia da Via Láctea, a busca deslocou-se para o imenso Universo além, pois a própria Via Láctea mostrou-se como somente uma dentre um grande número de enormes galáxias. [Ver a Folhinha Criacionista nº 2, encarte da Folha Criacionista nº 57].
permanecemos hoje filosoficamente? O problema agora se desloca da natureza do Universo para a pergunta sobre a maneira e a época de sua origem. O estudo dos elementos radioativos levou muitos cientistas a acreditar que o universo tenha cerca de cinco bilhões de anos.
Sugestões têm sido feitas de que a matéria se originou sob a influência de um grande número de fatores significativos, como por exemplo: (1) a presença de altas temperaturas, (2) a presença de nêutrons, prótons e elétrons, (3) progressiva agregação de partículas de matéria à medida em que se deu sua formação, e (4) formação extremamente rápida de elementos, provavelmente na sua primeira meia-hora de existência.
Interessantes como possam ser, tais sugestões falham na resposta a uma questão vital: a fonte desses vários fatores. De onde se originaram os nêutrons, prótons e elétrons livres? Que forças estiveram em ação para obrigá-los a unir-se para a formação da matéria? Até que essas questões possam ser respondidas, não estaremos mais perto de uma explicação da origem da matéria do que estávamos antes.
Não somente isso é verdade, mas para aumentar a dificuldade, muitas estrelas não se enquadram na seqüência de acontecimentos posteriores que supostamente levaram à atual composição do Universo. Hoyle sugeriu que os elementos mais pesados se formaram em supernovas e depois se dispersaram. Mesmo assim há muito poucas dessas supernovas para explicar os elementos mais pesados de nossa galáxia.
Muitas hipóteses têm surgido para explicar a origem do Universo. A mais antiga delas, com certa importância, foi proposta pelo matemático francês Laplace. Mas a sua única evidência real é a forma das nebulosas, exigindo mesmo assim muitas explicações, o que a torna sem nenhum valor real.
Em 1904, o geólogo T. C. Chamberlain e o astrônomo F. R. Moulton apresentaram a hipótese planetesimal. Gás incandescente emanado do Sol, sugeriam eles, resfriava-se e congelava-se no espaço exterior para formar pequenas partículas ou planetésimos. No decorrer do tempo muitas dessas partículas supostamente se agregavam para formar os atuais planetas.
Essa hipótese esbarrou com tantas dificuldades que atualmente é considerada de nenhum valor. Somente para mencionar uma dificuldade: ela falha na explicação da composição da Terra, com o seu núcleo de ferro e níquel e o seu manto e crosta de tipos completamente diferentes.
Uma sugestão mais recente é que partículas de poeira espalhadas no espaço deveriam ter sido submetidas à ação da pressão da luz proveniente das estrelas e assim obrigadas a se agregar, em seguida formando o Sol. Mas isso não explica a origem das partículas de poeira, nem das estrelas.
É bastante óbvio, ao estudarmos essas várias hipóteses, que todas elas partem da suposição de existência de alguma espécie de partículas, sejam de matéria ou de energia, mas nenhuma delas pode explicar como ou de onde essas partículas vieram à existência. Esse é um problema inescrutável!
Diferentes Origens para o Universo
Atualmente duas teorias (melhor chamadas de hipóteses, pois elas não atingiram realmente o padrão exigido para uma verdadeira teoria) atraem considerável atenção. Uma hipótese é chamada de teoria do “ponto- fonte”, ou mais comumente a teoria do “big-bang”. Seus defensores supõem a repentina formação do Universo a partir de uma pequena massa. Aceita-se que essa massa tem estado em expansão e que quando novos corpos se formam, eles de deslocam do centro do Universo com uma elevadíssima velocidade. A outra hipótese, a teoria do “estado-permanente”, supõe que o Universo seja estacionário. O deslocamento para o vermelho sobre o qual se apoia a idéia de um Universo em expansão, não significa expansão, dizem os advogados da teoria do estado-permanente. Pelo contrário, nova matéria está sendo criada no espaço exterior, e é essa nova matéria que dá a aparência de expansão. Em 1948 Hoyle e outros propuseram que a taxa da suposta expansão é igual à taxa da criação de novas galáxias.
Não é muito difícil, mediante o exame dessas hipóteses, reconhecer que elas se baseiam em fundamentos que são igualmente tão instáveis quanto quaisquer outros que foram propostos anteriormente. Todo o conteúdo da Cosmologia é simplesmente objeto de especulação, mas por enquanto todas essas especulações permanecem no estágio de hipóteses.
A Mecânica Quântica reduziu as propriedades dos átomos a relações de energia entre vários fatores, tais como gravitação, magnetismo etc. Dessa maneira a Física Moderna ligou a existência da matéria com a energia. Trabalhos sobre desintegração atômica modificaram o velho conceito da matéria formada do nada, transformando-o em criação de matéria a partir de energia.
Isso deixa ainda sem resposta o problema da fonte de energia ter-se organizado em matéria. É a matéria somente uma organização acidental, ou requereu ela a direção de um Criador inteligente? Qualquer pessoa familiarizada com a complexidade e com a organização sistemática dos compostos químicos acha extremamente difícil acreditar que tudo surgiu acidentalmente.
E o que dizer sobre “energia livre”? Pode ela existir sem fonte alguma? Tanto quanto saibamos, a energia deve provir de alguma fonte; ela não existe livre no espaço. E se ela deve ter uma fonte, ou mesmo se ela puder existir livre, poderia ela ter construído este complicado Universo sem uma direção inteligente? Essas são perguntas que os cientistas não puderam responder até o presente.
Com todas essas hipóteses, quão mais próximos estamos da solução final da origem da Terra e dos corpos celestes? Temos duas abordagens para o problema - A Bíblia, e a especulação imaginosa dos cientistas.
A Bíblia claramente declara a fonte final de toda a existência nas seguintes palavras:
“Pela palavra de Deus os céus foram feitos ... pois Ele falou e logo tudo se fez” (Salmo 33:6,9).
“Pois por Ele todas as coisas foram criadas ... e Nele todas as coisas subsistem” (Colossenses 1:16, 17).
“Sustentando todas as coisas pela palavra de Seu poder” (Hebreus 1:3).
Aqui, ao invés de vagas especulações, temos afirmações positivas, na realidade as únicas afirmações positivas sobre o assunto. A revelação fornece aquilo que os métodos científicos não podem possivelmente revelar.
A declaração de Gênesis 1:1 estabelece um profundo princípio que os cientistas não têm conseguido abolir, nem substituir por algo melhor, a despeito de todo o novo conhecimento do Universo trazido à luz nos últimos séculos.
Consideração de Antigos Relatos sobre o Tempo
Até agora temos considerado o mundo no espaço, mas volvamos em seguida à questão do tempo.
O que dizer com relação ao elemento tempo na Criação? Poderemos aprender algo da investigação científica, ou deve o tempo, como o espaço, ser compreendido somente pela aceitação da revelação da Palavra de Deus?
Antigos relatos referentes ao tempo são vagos e difíceis de coordenar com as escalas de tempo científicas. Poucos exemplos demonstrarão esse fato.
A legendária história chinesa volve a 2700 a.C., mas a cronologia autêntica data somente de 1300 a.C. Isso, portanto, não nos ajuda na determinação da idade da Terra.
A história hindu iniciou-se no terceiro século a.C. Os seus sábios desenvolveram um sistema de ciclos dos corpos celestes que marcariam o começo de todas as coisas. A data a que chegaram foi 4.320.000 antes de nossa época. Obviamente isso é puramente teórico, e de nenhum valor para resolver nosso problema.
A tradição e a mitologia egípcia tornam impossível recobrar muito da pré-história daquela nação. A primeira dinastia de Menes, um monarca tradicional, é apresentada na edição de 1966 da Enciclopédia Britânica como datando de 3100 a.C. Isso é muito mais recente do que as cronologias mais antigas de datas egípcias, e não está muito longe das estimativas criacionistas aceitáveis.
Antes da primeira dinastia, o “período” Paleolítico é estimado como datando de cerca de 4500 a.C. Isso se baseia somente na hipótese uniformista, que supõe que o homem Paleolítico surgiu do primitivismo através de lentos estágios. Aquele período de tempo pode entretanto ter sido muito menor. Da primeira até a décima segunda dinastia os registros são muito fragmentários, e podem estar sujeitos a maiores alterações do que geralmente aceito pelos arqueólogos.
As primeiras dinastias egípcias foram listadas por Manetho, um sacerdote egípcio, por volta de 300 a.C., que escreveu uma História Egípcia para Ptolomeu I. Somente porções fragmentárias dos seus escritos são achadas em Josefo e outros escritores. Algumas das dinastias do Alto e Baixo Egito podem ter se superposto, e se isto aconteceu, o tempo deveria ser abreviado.
Os registros babilônicos iniciam-se em torno de 2000 a.C., o que está perfeitamente dentro dos tempos bíblicos históricos. Os registros gregos mais antigos datam de cerca de 1250 a.C., e os romanos de cerca de 750 a.C., não sendo portanto de nenhum valor para a solução do problema da idade da Terra.
O Tempo baseado em Gênesis
Os únicos registros com os quais uma datação precisa pode ser estabelecidas são os encontrados
em Gênesis 5 e 11. O arcebispo Ussher seguiu o texto massorético, e as suas datas foram colocadas à margem da versão King James da Bíblia, durante muitos anos. De acordo com os seus cálculos, a criação teve lugar em 4004 a.C. Muitos estudiosos conservadores duvidam hoje de que os cálculos fossem completamente precisos, e deve mesmo ser admitido que eles constituem somente uma aproximação. Uma outra tradução, a Septuaginta, feita no terceiro século a.C. dá vida mais prolongada a muitos dos patriarcas. Isso sendo aceito, a data da criação ficaria estabelecida em torno de 5000 a.C. Josefo apresenta uma lista dos patriarcas em concordância com a Septuaginta. Qual das duas possíveis datas está correta é uma questão aberta.
Relativamente ao tempo anterior à semana da criação de Gênesis Capítulo 1, não há registros válidos da vida sobre a Terra – nada, a não ser especulação. Portanto, o único tempo que os cristãos podem razoavelmente aceitar, na base de registros escritos, situa-se entre 4000 e 5000 a.C., se desejarmos permanecer fiéis ao relato de Gênesis. Somente poucos séculos seriam necessários para ajustar essas datas à cronologia egípcia.
Os geólogos, na realidade, não concordariam com essa conclusão, pois eles acham que evidências nas rochas mostram não ser defensável o relato de Gênesis. Deve ser lembrado, porém, que a teoria de prolongadas idades geológicas é sujeita a sérias objeções, o que entretanto não é o escopo deste artigo.
Um problema que devemos reconhecer é o do surgimento dos grandes impérios da antigüidade antes da aurora da história escrita, na época de Abraão. Muitos têm-se perguntado como poderiam tais grandes nações desenvolver-se em tão curto intervalo de tempo? Na resposta a essa questão, devemos ressaltar que naquela época a raça humana era muito prolífica e a taxa de mortalidade natural baixa; não devemos raciocinar em termos da atual taxa de crescimento demográfico.
Assim, ao considerar a rápida multiplicação da população nos primeiros anos da história terrestre e ao olhar a população dos Estados Unidos dentro dos últimos 300 anos, começamos a compreender que não são necessários tantos milhares de anos, como freqüentemente suposto, para se passar do dilúvio ao tempo de Abraão. Na verdade, a Idade de Bronze é colocada entre 2100 a.C. e 1500 a.C., e as Idades da Pedra são datadas por alguns arqueólogos em torno de 10000 a.C. Entretanto, como já afirmado, os estudiosos cristãos não se obrigam a aceitar como válidas essas datas.
Outras questões relativas ao tempo, mudança uniforme
foi elevado devido ao derretimento das grandes camadas de gelo, como poderíamos correlacionar isso com a História Bíblica? Se colocarmos o período glacial após o dilúvio, não teria o derretimento do gelo inundado o litoral dentro do período histórico?
Dois pontos devem ser mantidos em mente. Primeiro, a teoria das glaciações múltiplas está sendo desafiada por competentes autoridades, e especialistas têm sugerido seriamente que os primeiros três “períodos” glaciais são somente evidências de várias fases da única verdadeira época glacial, a Wisconsin. Então, se considerarmos o dilúvio há 2500 ou possivelmente há 3000 anos antes de Cristo, teremos mil anos entre essa época e o primeiro porto marítimo do qual se tem conhecimento, o da antiga Tiro. Esse problema é um dos que necessita estudo, mas há soluções possíveis bem dentro dos limites de tempo permitidos pela atual compreensão da narrativa bíblica.
Uma revisão cuidadosa de todas as genealogias e cronologias dos tempos antigos indica que o mais velho e mais completo registro encontra-se na Bíblia. Ninguém está apto a dar prova positiva contra o relato de Gênesis e os seus elementos referentes ao tempo. É verdade que não podemos reduzir o tempo exatamente, mas podemos confiar que o tempo da criação pode ser localizado dentro de limites bastante estreitos.
Compreendemos que alguns criacionistas, embora rejeitando totalmente a teoria evolucionista, mantêm ainda que a criação deve ter tido lugar há 30.000 ou 100.000 anos atrás, alguns mesmo sugerindo milhões de anos. Mas esses pontos de vista não são mais defensáveis ao criacionista conservador do que aos evolucionistas, no que se refere ao tempo envolvido. O principal problema desses teóricos é que eles sentem que deve ter havido mais tempo do que o permitido no relato de Gênesis para possibilitar todas as alterações geológicas que parecem ter tido lugar entre o dilúvio e o começo da história escrita.
Esses criacionistas confundem-se ao tentar explicar as idades geológicas na base de uma ação mais ou menos uniforme. Podem reconhecer que o dilúvio foi responsável por algumas alterações geológicas, mas falham em compreender as enormes proporções da violência, que devem ter perdurado por muitas centenas de anos. Essas pessoas poderiam ser designadas como criacionistas “de tempo extenso” ou “criacionistas uniformistas”. O seu principal problema é raciocinar demasiadamente em termos da atual taxa de modificação. Crêem na criação, mas confundem-se na questão relativa ao tempo por não poderem conceber processos muito diferentes dos que observam agora.
O problema da datação radioativa é discutido por outras autoridades nestes “Anais”. Portanto simplesmente desejo lembrar que as alegações postas em jogo naquele campo não são muito convincentes, pois há muitas hipóteses não testadas e não testáveis, na base dos métodos envolvidos.
Em conclusão, o que podemos realmente saber sobre a Terra no espaço e no tempo? Com relação ao espaço, sabemos bastante, pois o nosso conhecimento do Universo expandiu-se tremendamente nos últimos quatrocentos anos. Mas com relação ao tempo, não sabemos absolutamente nada sobre a origem do restante do Universo, pois o relato de Gênesis trata somente da criação desta Terra, e os cientistas não têm apresentado nada mais do que hipóteses vagas e impossíveis. Podemos, portanto, concluir que o relato bíblico da criação da Terra há somente alguns milênios é ainda válido, pois nada que a pesquisa científica tem trazido à luz pode desaprovar aquele relato.
(Esta Nota foi acrescentada à primeira edição deste número da Folha Criacionista)
O nome de James Ussher, Arcebispo de Armagh e Primaz de toda a Irlanda, chegou até nós hoje quase sempre ridicularizado, como a pessoa que fixou como data da criação o ano 4004 a.C., e que teve até a audácia de estabelecer o dia e a hora – 23 de outubro ao meio-dia!
Não deixa de ser surpreendente, portanto, que Stephen Jay Gould, o famoso biólogo evolucionista, tenha saído a campo em defesa de Ussher! Evidentemente Gould não abriu mão de sua estrutura conceitual evolucionista que exige bilhões de anos para a história de nosso planeta, mas é muito significativa a sua postura de compreensão relativamente a outras estruturas conceituais que aceitam apenas alguns poucos milênios para essa história.
Nesta reedição do primeiro número da Folha Criacionista fazemos menção, nesse sentido, ao artigo de Stephen Jay Gould que constituiu notícia publicada no número 49 da Folha Criacionista, intitulado “Fall in the House of Ussher”, que constou originalmente do periódico Natural History, vol. 11/91 de 1991, páginas 12 a 21.
Em seu artigo, Gould se apresenta em defesa da cronologia de Ussher como tendo ela constituído um esforço digno de encômios para a época, e argumenta que “nossa atitude atual de ridicularizá-la somente registra uma lamentável estreiteza de mente baseada no uso errôneo de critérios atuais para julgar um passado distante e distinto”.
Gould destaca também, com grande propriedade, que a imagem mental de Ussher que nos é transmitida “reforça o pior paroquialismo que freqüentemente os cientistas invocam na interpretação de sua história – a noção de que o progresso do conhecimento resulta das vitórias conquistadas nas batalhas entre a ciência e a religião, definida a religião como a fidelidade cega ao dogma e a obediência à autoridade, e a ciência como a busca objetiva da verdade”.
Termina Gould o seu artigo, com algumas considerações finais, das quais destacamos o seguinte trecho:
“Encerro com um apelo final a favor do julgamento das pessoas de conformidade com seus próprios critérios, e não por padrões posteriores que possivelmente elas não possam vir a conhecer”.
Alegramo-nos por encontrarmos envolvidas no debate entre criacionismo e evolucionismo pessoas equilibradas como Stephen Jay Gould, tentando entender também o porque das argumentações contrárias à sua própria crença. Com um pouco mais de tolerância e compreensão, o debate entre criacionistas e evolucionistas poderia contribuir efetivamente para o progresso da ciência!
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