quarta-feira, 23 de julho de 2014

O Homem de Heidelberg já era!

Mais uma peça de ficção
Como você se sentiria ao acordar e ninguém mais chamar você pelo nome nem lhe dar a importância devida como ser humano? Como se você não existisse. Ou fosse um personagem de ficção. Pois é justamente isso que acabou de acontecer com certo homem. Alguns antropólogos estão afirmando agora que o tão aclamado Homo heidelbergensis nada mais é, nota bene, nada mais é do que “um construto de paleoantropólogos”. Quem não lembra das figuras feitas dele, um ser peludo, forte e umancestral dos neandertais e os humanos modernos, que [teriam vivido] entre 800 mil e 200 mil anos atrás? E agora, com esse questionamento, o Homo heidelbergensis não deve ter existido e pode ser mais uma invenção dos paleoantropólogos, segundo relato de Michael Balter, na revista Science.

Balter participou desse encontro privado de cientistas no sul da França, em que os pesquisadores debateram o status desse suposto ancestral humano. “Se alguém matar uma pessoa, ele vai para a cadeia”, o antropólogo Zeresenay Alemseged, da Academia de Ciências da Califórnia, em São Francisco, salientou no mês passado em um encontro no interior do sul da França. “Mas o que acontece quando você mata toda uma espécie?” A resposta logo ficou aparente: um debate angustiado. Na balança estava o Homo heidelbergensis, um ancestral humano de cérebro grande geralmente considerado como uma figura importante durante um período sombrio da evolução. Nesse encontro somente para convidados, os pesquisadores debateram se essa espécie realmente foi um ator importante – ou não mais do que um construto de paleoantropólogos.

O H. heidelbergensis de grande cérebro reivindicou um lugar importante na árvore evolutiva humana: ele é considerado por muitos [cientistas] como o ancestral comum dos humanos modernos e de nossos “primos” mais próximos e extintos, os neandertais. Datado aproximadamente em 500 milhões de anos atrás, ele é tido como ligando aquelas espécies e o mais antigo H. erectus, que tinha se espalhado pela África, Ásia e Europa, começando há [supostos] 1,8 milhão de anos. Mas, com base em uma nova consideração da evidência fóssil incompleta, alguns cientistas argumentam que o quadro é muito mais complicado, e que a transição entre o H. erectus de pequeno cérebro e os hominins de grandes cérebros ocorreu múltiplas vezes. Se for assim, o conceito de uma só espécie, multicontinental e intermediária poderia se dissolver em uma grande quantidade de espécimes de hominins sem nenhum nome para uni-los.

Repare que Balter não está afirmando que os crânios dessa criatura nunca existiram: afinal de contas, existem “11 crânios potenciais de H. heidelbergensis” que Philip Rightmire, da Universidade Harvard, examinou. O que estava em questão nesse debate privado (?) e agora tornado público é se um conjunto de características pode ser definida como uma espécie, considerando-se toda a diversidade de crânios humanos catalogada, e se aquela espécie mostra uma transição entre o Homo erectus e os posteriores ancestrais. Talvez você não saiba, mas cientistas como o Dr. Walter Neves, da USP, sabem e precisam destacar em sua exposição “Do macaco ao homem”, que a história do nome Homem de Heidelberg parece ser arbitrária.

O H. heidelbergensis tem uma história de controvérsia. A espécie foi baseada em uma única mandíbula inferior encontrada em 1907, em Mauer, perto de Heidelberg, na Alemanha. Calculada em cerca de 600 mil anos de idade, a mandíbula tem um ramo mandibular estranhamente grosso – uma projeção vertical que se articula ao crânio – e nada igual a isso foi encontrado desde então. Por décadas, o nome não conseguiu pegar, até que os antropólogos, inclusive Rightmire e Chris Stringer, do Museu de História Natural em Londres, observaram distintas arcadas superciliares grossas e grandes rostos em crânios de idade mais ou menos semelhante a partir de sítios, incluindo Arago; Petralona na Grécia; Broken Hill em Zâmbia; Yunxian na China; e Bodo na Etiópia. Todos esses crânios também armazenaram cérebros muito maiores do que do H. erectus, cerca de 1.200 centímetros cúbicos, dentro da faixa de cérebros humanos modernos, que está na média aproximada de 1.400 cc. (o cérebro de neandertais pode ser um pouco maior).

Nos anos 1970, Stringer e outros postularam uma única espécie abrangendo a Europa, África e Ásia, e ressuscitaram o nome H. heidelbergensis para descrevê-la. O cérebro muito maior da espécie foi refletido nas ferramentas complexas atribuídas a ela, tais como as lanças de madeira em Schöningen, na Alemanha (Science, 6 de junho, p. 1.080).

Parada para uma reflexão muito séria aqui, pois Balter parece estar dizendo que Stringer e seus colegas juntaram indivíduos desconectados de todo o mundo debaixo da designação antiga de Heidelberg, baseados apenas em algumas características, e isso basta para a chamarem de espécie? Alguns preferiram o rótulo mais antigo “Homem da Rodésia” da África.

Alô, Down, nós temos um problema aqui, Darwin. E que problema sério nós temos aqui, Dr. Walter Neves. Quem está promovendo os crânios de Sima, na Espanha, duvida que a designação Homo heidelbergensis ainda seja útil. Outros argumentam que o crânio de Mauer de Heidelberg, que começou tudo isso, parece ser “único de um tipo”, e não representando uma espécie, quando se considera suas características.

Bem, nesse encontro teve cientista que discordou. Cientista como Ian Tattersall, que “lutou vigorosamente para salvar as duas espécies e a opinião mais simples de todas e mais direta da evolução humana que ele representa”. Balter termina seu artigo com a mera esperança, ao afirmar que “novos fósseis desse tempo misterioso ajudariam”. Ele nem ousou predizer sobre a publicação que virá sobre ossos da Etiópia datados do período de 300 mil anos, a não ser afirmar o óbvio: “Espere um debate vívido quando esses ossos fundamentais forem publicados.”

Pano rápido! “Do macaco ao homem”, uma exposição PERMANENTE sobre o fato, Fato, FATO da evolução humana é NATIMORTA e vai apresentar o Homem de Heidelberg como nosso ancestral e dos neandertais? Espero que não!

Nota do blog Desafiando a Nomenklatura Científica: “Eu amo a ciência. Sei que ela é feita por pessoas. Sei das limitações de suas teorias. Sei também da preferência e do preconceito dos cientistas diante das evidências. Quando as evidências contrariam a teoria, há cientistas que as desconsideram. ‘Evidências? Que se danem as evidências, o que vale é a teoria!’ – teria dito Theodosius Dobzhansky a seus alunos de Genética na USP, nos anos 1930. Como eu sei que o Dr. Walter Neves é um cientista sério, como curador dessa exposição PERMANENTE, ele mandará corrigir o status evolucionário do Homem de Heidelberg.”

Leia também: “‘Do macaco ao homem’ - Walter Neves (USP) expõe permanentemente sobre tema polêmico, controverso e inconcluso: a evolução humana

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