
O curso de Geografia possui disciplinas que
proporcionam ao aluno pensar sobre as causas sociais,
econômicas, ambientais, políticas, etc., em função do tempo e do espaço. Disciplinas estas que destaco algumas mais pertinentes para com a reflexão que farei a seguir, tais como: Sociologia, Geografia
Econômica, Geografia da População, e Geografia Política e Cultural - no caso do curso de Geografia da Universidade Estadual de
Maringá (UEM), aonde estudo. Na UEM, por exemplo, as disciplinas mais ligadas à área das ciências humanas são estudadas a partir da concepção marxista, chamado de materialismo histórico-dialético. Sempre gostei das ciências humanas e gostaria de fazer aqui um contraste entre o que aprendo na faculdade e o que aprendo com a Palavra de Deus, a Bíblia, no que concerne à crítica sobre o modelo capitalista imposto e às possíveis soluções para se superar este modelo sócio-político-
econômico concentracionalista, extremamente
segregador e desumano. Chamarei de socialismo cristão (que não é aprendido no curso) uma das propostas e de socialismo marxista a outra proposta de crítica e superação deste modelo
deletério ao bem-estar social.
Como a maioria de nós sabemos, o capitalismo tem seus prós e seus contras, tendo muito mais contras do que prós. Afinal, a concentração de riquezas, a pobreza/miséria
crônica, a divisão de classes, a competição não saudável, o consumismo e outros problemas derivados do capitalismo - sobretudo o selvagem - vêm assolando a maior parte da sociedade, onde ela é alienada pelo sistema, ao passo que é feita refém por ele. Como nunca
experimentamos outro sistema em questão plenamente, e de forma que abrangesse toda a sociedade, só podemos teorizar sobre os sistemas alternativos. Assim, tanto o socialismo cristão como o marxista são passíveis de análise.
Concordo com boa parte das ideias
diretas de Marx, sobretudo porque ele conseguiu
simultaneamente entender e fazer uma análise crítica do capitalismo, entendendo o que chamou de conflito de classes etc., sendo um
revolucionário sobre o pensamento da época. As obras desse pensador tais como
Manifesto do Partido Comunista e o clássico livro
O Capital são a base do pensamento sociológico da maioria dos centros
acadêmicos de hoje. Mas, minha
concordância plena com as idéias
marxianas e marxistas param por aí e encontram certa divergência quanto à forma de superação do modelo capitalista. Claro que a proposta do socialismo idealista é boa, mas nos métodos é que encontro a grande diferença entre o possível sucesso entre o socialismo marxista e o socialismo/
comunitarismo cristão.
Creio que o socialismo/
comunitarismo cristão genuíno já provou que dá certo, mas existiu ou existe em pequena escala, sendo um modelo de sucesso ainda incubado que precisa ser difundido em plenitude em todo o mundo. Escrevo isso baseado em reflexões sobre os textos da Bíblia Sagrada, principalmente sobre os relatos do livro de
Atos dos Apóstolos, que transmitem uma ideia de como eram as relações entre os primeiros cristãos (verdadeiros) dos primeiros séculos d.C. Vamos lê-los:
"E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio dos apóstolos. Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade. Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos." (
Atos 2:42-47)
"E era um o coração e a alma da multidão dos que criam, e ninguém dizia que coisa alguma do que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns. E os apóstolos davam, com grande poder, testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graça. Pois nenhum necessitado havia entre eles; porque todos os que possuíam terras ou casas, vendendo-as, traziam o preço do que vendiam e depositavam-no aos pés dos apóstolos; e repartia-se a cada um conforme a sua necessidade." (
Atos 4:32-35)
Note que as relações descritas nas passagens eram baseadas nos Dez Mandamentos de Deus (Êxodo 20:3-17),
essencializados por Jesus em dois: "...amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força... Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes." (Marcos 12:30,31), onde do 1º ao 4º mandamentos se referem à nossa relação com Deus (relação vertical) e do 5º ao 10º se referem à nossa relação para com o próximo (relação horizontal). Estes cristãos da igreja primitiva alcançaram o sucesso social. Não estou falando de riquezas que o mundo capitalista está acostumado a conceber como sucesso, mas de ter o suficiente para viver com dignidade, ter paz, amor uns com os outros, crescimento espiritual, união, igualdade - ou seja,
comunitarismo. O que para o
cristianismo foi (e em certo grau ainda é) uma realidade, para o socialismo marxista ainda é e acredito que sempre será uma utopia.
Eu acredito que Marx e os marxistas de
carteirinha deveriam e devem ler e considerar uma proposta que já mostrou que dá certo, lendo as Escrituras, para descobrirem o "segredo" para germinar, vingar e produzir frutos a semente do socialismo ideal. Porém, o que fazem com o método que já se provou eficaz? Descartá-o por completo, pelo fato de crerem no materialismo filosófico, excluindo assim, a Fonte do sucesso, o Senhor Deus, que é espírito. O próprio Karl Marx expressou certa vez que "a religião é o ópio do povo" e se baseou em idéias
ateísticas, contribuindo para desenvolver o materialismo
dialético. Os cristãos
inconformados com as mazelas do capitalismo e com o utopismo do socialismo/comunismo marxista devem se atentar para isso mais do que outros. Estou tentando ser um deles.
Apesar de não ter sido expresso fidedignamente na antiga União Soviética, o sistema comunista/socialista não funcionou somente pelo fato da concorrência com o capitalismo ocidental, mas também porque houve uma filosofia ateia impregnada no modelo, e Deus diz que "...sem mim, nada podeis fazer." (João 15:5). Sou totalmente favorável à coletivização dos meios de produção e à distribuição de riquezas, mas prefiro que seja pelo método da sabedoria de Deus. De mau contra mau, o capitalismo venceu - o que também foi lamentável. Hoje, permanecem alguns poucos países que tentam resistir ao capitalismo (Cuba, Coréia do Norte, China comunista, etc.), mas também se utilizando de métodos político-filosóficos errados.
Hoje, mesmo englobados e influenciados de uma forma quase que
inesquivável pelo capitalismo, o exemplo da igreja cristã primitiva ainda resiste na mente de alguns cristãos conscientes. Atualmente, mais com a conotação de
assistencialismo missionário, muitas igrejas cristãs lutam contra a desigualdade social. Cito a Igreja Adventista do Sétimo Dia (
IASD), com sua Agência de Desenvolvimento e Recursos
Assistenciais (
ADRA) e a Igreja Católica Apostólica Romana, com a Pastoral da Criança, como exemplos. Porém, a maior colaboração para se ter esperança de dias melhores está na pregação do evangelho eterno da salvação em Jesus Cristo, na obediência à Sua Lei (Êxodo 20) - pregada pela Bíblia e pelos adventistas - e na esperança em Seu plano de restauração de todas as coisas, prometido e futuramente executado/dado como
prêmio para aqueles que
nEle confiarem até o fim. Assistencialismo resolve o problema? Não. Mas, pelo menos, alguns fazem sua parte para se ter um mundo mais justo, até à volta do Senhor Jesus.
Claro que reconheço e faço também uma crítica ao esmorecimento, em especial, da
IASD (por ser adventista) quanto a se deixar ser quase que engolida pela influência capitalista. Muitos irmãos que detém um poder aquisitivo maior que o seu próximo deveriam ler mais e meditar na passagem do "jovem rico", descrita em Mateus 19:21 e nas passagens de
Atos dos Apóstolos, expostas acima, por exemplo. Mas sobre a questão dos templos adventistas tenho outra ideia. A IASD tem uma certa quantidade de belos templos espalhados pelo mundo, arrojados arquitetonicamente; porém, não se trata de ostentação, mas de condicionar bem-estar aos frequentadores, quando possível. Afinal, é a casa de Deus, e a casa de Deus deve ser digna dEle e confortável para os fiéis. Eu, por exemplo, frequento um pequeno templo da IASD que é muito bonito, de bom gosto, aconchegante; mas ao mesmo tempo é modesto e frequentado por pessoas simples. Lembremos que "para Deus, só o melhor". Lembremos ainda do belo
templo construído pelo rei Salomão e abençoado por Deus, descrito em 1 Reis. A IASD tem um sistema de coleta de ofertas que visa à expansão organizada e igualitária da igreja pelo mundo. Uma parte das ofertas é usada para construir templos, escolas, hospitais, etc. em vários lugares do mundo, tendo a mesma qualidade para todos. A transparência da IASD quanto ao que arrecada e usa na obra da evangelização e assistência social é motivo de admiração por parte de muitos.
O socialismo marxista se baseia na proposta da revolução do
proletariado, que visa coletivizar os meios de produção, etc. Revolução esta que pode ser entendida como tentativas de conquistas de direitos através de protestos, organização de greves, organizações sindicais e, com isso, pode surgir os conflitos por vias de fato
propriamente ditos, ou seja, a violência, e a não solução eficaz do problema. Vemos isso quase que todos os dias pelos meios de comunicação... Mas eu pergunto: estamos mais iguais por tentar fazer a tal revolução desta forma, excluindo Deus da jogada, como muitas vezes é a ideologia? As estatísticas respondem: entre 1960 e 1991, a participação de renda global dos 20% mais ricos cresceu de 70% para 85%; em 1991, mais de 85% da população mundial recebia apenas 15% da sua renda, e a riqueza líquida das 358 pessoas mais ricas, os
biolionários em dólares, era
igual a renda somada de 45% da população mundial mais pobre, isto seria, 2,3
bilhões de pessoas (
UN Development Program, 1996:13). Hoje, infelizmente quase 1
bilhão de pessoas passam fome no mundo, e mais de 1
bilhão passam sede, segundo a estimativa da
FAO; as condições de trabalho melhoraram nos países de primeiro mundo, mas, em
contrapartida, as condições precárias de trabalho migraram para países da Ásia (China, Índia,
Vietnã, Indonésia, etc.), América do Sul e África, por exemplo. Veja o caso específico de desigualdades
socioeconômicas do Brasil clicando
aqui. O que seria isso senão a falta de amor a Deus e ao próximo que a sociedade vem cultivando e possivelmente cultivaria com a implantação de um sistema que não dê importância aos princípios da vida?
O Socialismo cristão genuíno se baseia na revolução por meio do evangelho, que é por natureza pacífico, trazendo consigo a máxima do amor a Deus e ao próximo como
atos não utópicos, mas possíveis e palpáveis. A luta entre as classes sociais vai continuar sem existir o amor vertical e o horizontal. Porém, é mais difícil de se fazer, porque depende do entendimento e mudança de atitudes de todos, tanto de ricos como de pobres. Um rico convertido a Deus entenderia que o que ele tem concentrado, na verdade, deveria ser repartido em partes iguais com aqueles que têm pouco ou nada, conforme os ensinos de Cristo e proposta feita ao "jovem rico", por exemplo. Só que o que vemos geralmente é o individualismo correndo solto em todas as classes sociais. Você entende o que eu estou querendo dizer? O método é o amor verdadeiro, que é um dom de Deus dado àqueles que pedirem a Ele. E isso o socialismo marxista não tem.
Dias atrás vi algo que me fez
refletir e me deixou feliz. Ao darmos uma aula de campo (termo geográfico usado para se referir aos estudos feitos fora do ambiente teórico da sala de aula) para uns alunos da rede pública, meus colegas de classe e eu - que formamos um grupo de professores estagiários, na ocasião - paramos em uma
lanchonete com os alunos para fazermos o lanche da tarde. Com isso, um de meus colegas da faculdade, o Fábio, teve a sensibilidade de notar que um aluno estava isolado do resto do grupo porque não tinha dinheiro para comprar seu lanche. O Fábio logo tirou cinco reais da carteira e pediu para um outro colega comprar um lanche para o aluno. O aluno ficou muito feliz por ter sido lembrado e saboreou seu lanche, como toda criança gosta de fazer. Enfim, se sentiu incluso na sociedade em que está inserido, graças à atitude nobre do professor. O Fábio é cristão, diga-se de passagem. Notei que aquilo foi uma atitude
espontânea do Fábio e vi Jesus em seu rosto. Todos nós do grupo gostamos muito da atitude solidária de nosso colega. O amor abnegado se apresentou ali naquele momento. Percebe? Esta é a essência do que defendo, o amor ao próximo, a preocupação com o bem-estar alheio, como
consequência de temer (amar) a Deus. O resto é conversa fiada e discurso. A sociedade só vai mudar se cada um mudar sua atitude. Mas Deus, pela força do evangelho, é quem pode nos mudar.
Leia o que o próprio David Harvey, um grande pensador marxista, escreveu no livro
A Produção Capitalista do Espaço:
"No mundo, a maior parte da defesa da dignidade humana em face da degradação e da violência relativa ao trabalho foi articulada por meio das igrejas e não diretamente pelas organizações laborais (a capacidade das igrejas de operar em diferentes escalas espaciais proporciona diversos modelos de organização política, os quais o movimento socialista poderia extrair algumas lições importantes)." (HARVEY: 2005, p.218)
Agora leia a declaração de Marx em
Manifesto:
"À medida que a exploração de um indivíduo pelo outro terminar, a exploração de uma nação por outra também terminará. À medida que o antagonismo entre as classes numa nação desaparecer, a hostilidade de uma nação por outra também acabará."
Porque não se utilizar da genuína religião como método para se alcançar os objetivos que todos nós desejamos, que é o bem-estar social, a paz, o respeito entre todos e a união entre os povos? Religião esta que ensine as pessoas a viverem por Cristo e pelo próximo (e não a se explodirem por causa de uma ideologia ou a dar dinheiro que Deus não pede - a não ser o dízimo e ofertas proporcionais aos rendimentos - para líderes soberbos e gananciosos). Religião esta que siga o significado essencial do termo (religar o homem a Deus) e, desta forma, obter a felicidade almejada por todos. Poderia escrever muitas outras qualidades e benefícios da verdadeira religião, mas fiquemos por aqui.
Analisando os métodos dos socialismos marxista e cristão, faço um paralelo (mesmo que não se aplicando totalmente a comparação) sobre o contraste entre Jesus Cristo e Barrabás - a
quele que foi solto pelos judeus, em detrimento à condenação de Cristo. Jesus Cristo e Barrabás tinham o sonho
revolucionário de salvar o povo judeu do jugo romano (porém, Jesus foi mais longe, jogando isso no plano da salvação de todos os homens do mundo e não libertando apenas do jugo romano, mas do laço de Satanás e suas hostes do mau para sempre). Barrabás queria fazer sua revolução pela força física, e Jesus, pelo poder de Deus. E Ele já venceu o mau na cruz do Calvário, ao passo que nós, pela fé, aguardamos o Seu retorno triunfal para acabar de uma vez por todas com todo tipo de
maldade, incluindo aí o capitalismo e outros sistemas, ideologias, etc. que estão corroendo a Terra e seus moradores.
Por fim, faço uma proposta a você, caro(a) leitor(a): quer superar o capitalismo e outras facetas do mal? Então vamos voltar aos
princípios da vida.
André Luiz Marques
Leia também: Reflexão sobre o Capitalismo e a esperança de um mundo melhor