quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Cresce a fraude em ciência - e no Brasil?

Preste atenção neste assunto: fraudes em pesquisas científicas. Elas estão aumentando e vão continuar assim, dada a competição feroz por reputação e verbas nesse campo da criatividade humana.

Nada menos que 72% dos pesquisadores incluídos numa revisão ampla de 2009 afirmam já ter presenciado algum tipo de má conduta. As falcatruas vão de pecados veniais, como a inclusão honorária de autores que não participaram de um estudo, a pecados capitais, como falsificar ou fabricar dados.

Nas faculdades de medicina brasileiras, por exemplo, é prática comum pôr o nome do chefe da cadeira entre as assinaturas de um artigo científico, mesmo que ele não tenha noção do que vai escrito ali. Há quem defenda a aberração, argumentando que o fulano criou as condições para que a pesquisa fosse realizada.

Sendo assim, por que não incluir também o nome do reitor em todos os estudos realizados numa universidade? Antes que algum reitor ou bajulador afoito se encante com a ideia, aviso que se trata de um argumento por absurdo.

Reconhecimento honesto da autoria de trabalhos originais é um dos pilares da ciência. Fidelidade na descrição dos métodos e dados é outro, pois é crucial poder reproduzir observações e experimentos. Por toda parte há quem se disponha, no entanto, a marretar os pilares do edifício.

Não deve ser por acaso que se realizou em Cingapura, de 21 a 24 de julho, a Segunda Conferência Mundial sobre Integridade em Pesquisa. O evento lançou para discussão aberta na internet o documento "Singapore Statement" (Manifesto de Cingapura), que lista 13 princípios e dá a seguinte definição de integridade científica:

"Integridade em pesquisa é definida como a confiabilidade da investigação por força da solidez de seus métodos e da honestidade e precisão na sua apresentação. Falta integridade à pesquisa quando seus métodos ou apresentação distorcem ou deturpam a verdade".

O caso mais rumoroso em andamento é o de Marc Hauser, célebre pesquisador da Universidade Harvard no campo da psicologia evolucionista (novo nome da polêmica área da sociobiologia, surgida nos anos 1970). Hauser é o autor de influentes trabalhos - inclusive experimentos com macacos - sobre a origem de comportamentos morais na evolução darwiniana por seleção natural.

O raciocínio básico da psicologia evolucionista afirma que, se algo existe hoje, é porque foi selecionado no passado por conferir vantagem adaptativa. Coisas como senso de justiça e altruísmo teriam sido úteis para a sobrevivência de indivíduos ou espécies primatas, em priscas eras, e por isso teriam sobrevivido (possivelmente "codificadas" no DNA da espécie). Há quem conclua daí que as pessoas são boas ou más por causa de seus genes, o que ajuda a entender a popularidade desses estudos.

Hauser é um pouco mais sofisticado. Seu livro "Moral Minds", de 2006, teve boa repercussão. A qualidade de alguns de seus trabalhos científicos, porém, começou a ser investigada há pelo menos um ano por Harvard, noticiaram os jornais "Boston Globe" e "The New York Times".

A imprensa brasileira aparentemente ignorou a péssima notícia. Se quiser ler algo em português, dirija-se ao diário luso "Expresso".

Tratei do assunto em comentário no blog Ciência em Dia, quarta-feira passada, no qual concluí, talvez indevidamente, que Harvard o havia afastado. Não está claro ainda, mas parece que Hauser se afastou voluntariamente, a julgar pela resposta automática para mensagens de e-mail em que afirma estar em licença e trabalhando furiosamente na conclusão de um livro, "Evilicious: Why We Evolved a Taste for Being Bad" (Por que Evoluímos para o Gosto de Sermos Maus), segundo se pode ler em reportagem do jornal "Harvard Crimson", que voltou a tratar do assunto aqui.

Alguns trabalhos do grupo de Hauser em periódicos já estão sendo retirados (cancelados), por desacordo entre dados e conclusões, mas não se conhecem detalhes. Nem Hauser, nem seus alunos, nem a universidade estão dando entrevistas sobre a investigação.

Pode ser uma maneira de preservar a reputação pessoal de Hauser, claro. Se for isso, mesmo, reforçaria a hipótese de que os erros (ou fraudes) sejam menores, ou cometidos sem seu conhecimento por um integrante júnior da equipe.

O galho é que, sem esses esclarecimentos, toda a obra de Hauser e de seus colaboradores fica sob suspeita. Não dá para saber se houve uma falha localizada de supervisão, ou uma prática corrente em seu laboratório. O silêncio de Harvard só contribui para turvar ainda mais as águas.

A Escola Médica de Harvard pelo menos criou um Escritório de Integridade Científica. Agora tente encontrar na página da Faculdade de Medicina da USP, a mais prestigiada do país, algo similar a isso --se existe, não se encontra com muita facilidade.

Alguém duvidaria, em sã consciência, que fraudes científicas vão de vento em popa também no Brasil?

Fonte: Marcelo Leite (por incrível que pareça) da Folha.com

Nota: E isso é só a ponta do iceberg mesmo, pois não duvido nada de que muitas outras publicações científicas, tanto na medicina como em outros ramos da ciência, no Brasil e em outros países, possam conter fraudes. Casos desmascarados na ciência evolucionista como o do Homem de Piltdown, do dinossauro pássaro, da recapitulação embrionária de Haeckel etc. são alguns dos muitos exemplos que felizmente já conhecemos.

4 comentários:

Elyson Scafati disse...

Completando a sua nota:

E o pior é que foram os próprios cientistas que botaram estas teses no chão...

Vamos lá:

Haeckel:Teoria da Recapitulação Ontofilogenética - A ontogenia refere-se ao desenvolvimento dos embriões de uma dada espécie.

A filogenia refere-se à história evolucionária das espécies.

A teoria de Haeckel defende que o desenvolvimento do embrião de uma dada espécie repete o desenvolvimento evolucionário da espécie.

Os biólogos e os morfologistas já demonstraram que não existe uma correspondência elemento a elemento entre a filogenia e a ontogenia.

Embora não seja correta uma forma vigorosa de recapitulação, filogenia e a ontogenia estão relacionadas. Hoje está a se compreender as causas desta relação.

Ligações entre a ontologia e a filogenia podem ser observadas na maioria das espécies.

No entanto, uma correspondência elemento a elemento entre a ontogenia e a filogenia é rejeitada pelos biólogos modernos.

Os embriões humanos não se parecem com peixes; parecem-se com embriões de peixe.

Uma versão mais correta da teoria defende que o desenvolvimento embrionário de uma espécie recapitula as formas embrionárias dos seus ancestrais.

Mas nem mesmo isto é correto: por vezes alguns degraus da evolução são ignorados e ocasionalmente em outros casos a ordem filogenética é invertida na ontogenia.

Assim, o que falta é vc entender o que realmente era a teoria proposta por Haeckel.

Mas o diagrama dele continua ai...

Elyson Scafati disse...

Piltdown - É uma das meninas dos olhos dos criacionistas contra a TE.

O arqueólogo e geólogo amador Charles Dawson com a contribuição do sacerdote jesuíta Teilhard de Chardin, encontrou uma mandíbula (com dois dentes), aparentemente de macaco, outros pedaços de calota craniana, vários dentes e ossos fossilizados de animais, instrumentos de pedra, etc.

A princípio, deduziu-se que os ossos do crânio e mandíbula fossem do mesmo animal, pois foram encontrados em curta distância, apresentavam os mesmos sinais de fossilização e os dentes, apesar de semelhantes aos de macaco, tinham características humanas.

Com a descoberta de outros fósseis mais antigos, verificou-se que o homem de Piltdown era uma excrescência, não cabendo em lugar algum. Os novos fósseis mostravam crânios menos humanizados e mandíbulas mais humanizadas, restando-se admitir duas linhas evolutivas para que, numa delas, se encaixasse o estranho fóssil.

A significância do espécime permaneceu objeto de controvérsia até que, com o avanço da ciência, foi declarada em 1953 como uma fraude, consistindo da mandíbula inferior de um símio combinada com o crânio de um homem moderno, totalmente desenvolvido.

Em 1954 os resultados das investigações foram apresentadas por Oaley e Weiner, diante da Geological Society de Londres. Sir Gavin de Beer, então diretor do Museu de História Natural declarou que "a ciência havia lucrado com o trabalho de demolição do 'fantasma do Homem de Piltdown': várias técnicas para estudo de fósseis haviam se desenvolvido, o que tornava impossível a repetição de uma fraude deste tipo, sendo de grande valia para o futuro estudo científico dos fósseis". Em meados de 1996 os primeiros vestígios materiais da identidade do falsário veio à tona, apontando para Martin Hinton, colega de Arthur Smith Woodward no Museu de História Natural de Londres.

Muitos criacionistas criticam os estudos evolutivos tendo como exemplo a fraude do Homem de Piltdown. Entretanto, desconhecem a real história da fraude. Desconhecem que na época do "descobrimento" do "fóssil" os estudos paleontológicos estavam engatinhando e eram feitos muitas vezes por despreparados geólogos amadores. Estes ainda auxiliam os pesquisadores, e são responsáveis por achados importantes. Entretanto, as análises são levados a cabo por especialistas na área. Atualmente o estudo de fósseis conta com equipamentos e técnicas sofisticadíssimas que teriam desmascarado tal farsa já no primeiro olhar. Além disso, como foi observado ainda nos anos 20, com o crescente número de fósseis sendo descobertos, o espaço para tais farsas fica cada vez mais limitado.


Assim, vc deveria primeiro saber qual a verdadeira história dessa fraude antes de sair repetindo o mantra criacionista.

Elyson Scafati disse...

Archaeoraptor liaoningensis: estudo do paleontólogo Tim Rowe, da Universidade do Texas em Austin (EUA), publicado pela revista nature, mostra que o fóssil é o mosaico de pedaços de uma ave e quatro dinossauros diferentes.

A idéia de era coincidir a descrição científica do bicho com uma matéria sobre o animal na "National Geographic". A fim de publicar a descrição na "Nature" ou na sua rival, a "Science", Czerkas contratou Tim Rowe para fazer uma análise de tomografia computadorizada no fóssil. "Levou só algumas horas para perceber que o espécime estava quebrado em muitos pedaços e que nem todos haviam sido rearranjados corretamente", disse Rowe à Folha.

Mas Czerkas resolveu levar a publicação na "National Geographic" à frente, mesmo depois de o trabalho ter sido rejeitado pelas duas revistas científicas. E ameaçou Rowe de processo caso publicasse os dados da tomografia.

A tramóia só veio abaixo um mês depois, quando Xing Xu encontrou, na China, um fóssil de dromeossauro cuja cauda era, sem dúvida, a do Archaeoraptor, e a "National Geographic" foi obrigada a desmentir a capa.

Só agora, depois de resolvidas as questões legais —o tal processo aconteceu, de fato—, o trabalho de Rowe (concluído desde outubro de 99) aparece na "Nature". A análise mostra que a laje contendo o Archaeoraptor foi montada a partir de 88 cacos de pedra. Parte deles contém meio fóssil de um pássaro ainda desconhecido para a ciência, que está sendo estudado por Xu. Outra parte tem restos de dromeossauros que não podem ser atribuídos a um só espécime.

Para o paleontólogo, a fraude do Archaeoraptor mostra como o comércio de fósseis atrapalha a ciência. "Qualquer espécime que tenha uma etiqueta de preço é uma fraude em potencial", disse. "Felizmente, um conjunto cada vez maior de técnicas pode ser aplicado agora à análise de fósseis", afirma no estudo.

Nenhum criacionista na área...

Elyson Scafati disse...

Homem de Nebraska: Dizem que de um dente se montou um espécime.

A história não é bem assim.

O dente não foi considerado como evidência por muitos cientistas. A maioria deles na verdade eram céticos quanto à descoberta, diferente de como os criacionistas querem fazer parecer.

O próprio Henry Fairfield Osborn, paleontólogo que descreveu o dente, estava em dúvidas o dente pertencia aos hominídeos ou a outra espécie de primata:

“Até estarmos mais seguros quanto a arcada dentária, ou partes do crânio, ou do esqueleto, não podemos estar certos se o Hesperopithecus pertence aos Simiidae ou aos Hominidae.” (Osborn 1922)

O tal desenho que os criacionistas gostam de usar para ridicularizar a evolução, foi feito por uma revista de cunho popular, tipo Superinteressante ou Veja, e não foi nem jamais teve intenção de ser cientificamente correta. Tal desenho jamais foi publicado em trabalhos científicos.

Até Osborn se espantou ao ver o desenho, e disse que:

“Tal desenho ou ‘reconstrução’ seria com certeza apenas proveniente da imaginação humana, sem valor científico nenhum, e com certeza impreciso” (Wolf and Mellett 1985)

O Homem de Nebraska foi um exemplo de ciência funcionando bem. Uma descoberta intrigante foi encontrada, podendo ter várias implicações.

A descoberta foi anunciada e vários outros experts a analisaram. Cientistas de início eram céticos. Mais evidências foram encontradas, e a conclusão foi que a interpretação inicial estava errada. Finalmente, a retratação foi publicada.

Ou seja André:

Antes de replicar memes, tente aprender o que eles significam e de onde vieram.

enquanto isso os criacionistas continuam violando o 9 mandamento: NÃO DIRÁS FALSO TESTEMUNHO.

Isso significa também mentir, omitir e distorcer (ou estes como não estão literalmente descritos são permitidos por seu deus da mentira?) . Deus vai te castigar ein!!!

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