Escrito por R. Clyde McCone - Ph.D., Professor de Antropologia na California State University, Long Beach 90801, U.S.A.
Os antropologistas discordam entre si quanto a qualquer aplicação particular das explicações evolucionistas. Apesar disto, tendem a aceitar a idéia geral da evolução, sem questionar. Pode-se mostrar que os dados acerca da evolução ou são emprestados ou são gerados pelas hipóteses. As hipóteses uniformistas de uma ordem existente mostram-se inconsistentes com a tentativa de explicação das origens daquela ordem. A evolução torna-se bem sucedida somente pela deificação da natureza, introduzindo nela o mistério inescrutável que se situa além da ciência e da mente humana. O seu tratamento deificante da natureza material constitui um valor e não uma teoria científica.
Com boa razão, muitas pessoas, leigos e profissionais, têm identificado a Antropologia com a evolução. Falar de objeções antropológicas à evolução, a muitas pessoas assemelhar-se-á a fazer objeções científicas à ciência. O que se pode esperar mais comumente são objeções bíblicas à evolução. Infelizmente, a grande maioria das objeções religiosas à evolução têm sido baseadas mais em emoções humanas e tradições do que nas Escrituras, e em conseqüência têm gerado mais calor do que luz.
Se porventura pareço incongruente ou presunçoso a alguns leitores ao apresentar objeções antropológicas à evolução, desejaria que fossem considerados os dois fatos seguintes a respeito da Antropologia e dos antropologistas.
Primeiramente, que, embora nenhum antropologista ponha em dúvida a evolução, não há nenhuma explicação evolucionista particular oferecida por um antropologista, que não tenha a oposição de alguns outros. Isso é verdade tanto na Antropologia Física quanto na Cultural.
A segunda observação é que, nas três primeiras décadas do século XX, muitos antropologistas culturais dos Estados Unidos, e muitos antropologistas sociais da Grã Bretanha, ou se opuseram à evolução, ou não a consideraram como estrutura útil para explicação. Leslie White (1) diz a respeito desse período “... uma importante reversão de acontecimentos teve lugar nos círculos antropológicos; uma reação vigorosa contra a teoria da evolução teve início. Nos Estados Unidos esse movimento foi dirigido por Franz Boas”. Vemos, pois, que objeções à evolução em geral, e a quaisquer explicações evolucionistas especificas, são e foram registradas dentro da Antropologia.
Deve ser reconhecido, entretanto, que a estrutura evolucionista hoje em dia está crescentemente em voga na Antropologia. O trabalho de White é uma forte “reação contra a reação” anti-evolucionista da primeira parte deste século. O seu trabalho, num contexto de muitos outros fatores, grandemente, minimizou, se não eliminou, a tendência anti-evolucionista da Antropologia. De fato, oposição explícita à evolução é mais fácil de ser encontrada supondo-se ignorância dos dados pelos indivíduos, raciocínio preconcebido ou não educado, ou oposição supersticiosa à ciência.
Ainda assim, é nesses três níveis que desejo destacar o que espero mostrar serem objeções antropológicas à evolução. Essas objeções são antropológicas porque:
(1) relacionam-se abertamente com o problema dos dados;
(2) relacionam-se conscientemente com o exercício da razão;
(3) ligam-se com os critérios científicos da teoria.
Usarei uma definição de evolução dada por um antropologista cultural, aplicável também a fenômenos biológicos: “A evolução pode ser definida como uma seqüência temporal de formas, uma forma derivando de outra, a cultura progredindo de um estágio para outro” (2). A evolução tenta também ligar os estágios dos inanimados aos estágios da vida. Os estágios da vida ligam-se também aos estágios da cultura. Todo o processo é utilizado para supostamente explicar a ordem existente na natureza e no homem.
Dois outros conceitos que são básicos para a compreensão de minhas objeções encontram-se nos adjetivos: sincrônico e diacrônico.
Sincrônico tem relação com uma ordem contínua de fenômenos. É a abordagem dos cientistas naturais pela qual as mesmas regularidades que são observadas hoje provavelmente ocorreram ontem e ocorrerão amanhã. Pode-se esperar que a reação química HCl + NaOH ? H2O + NaCl, verdadeira há cem anos, continuará verdadeira nos próximos cem anos. O tempo, observamos, não é um fator, embora esteja envolvido no processo. A abordagem sincrônica é portanto uma abordagem que supõe uma ordem existente predizível.
Diacrônico tem relação com as transformações temporais. É a abordagem dos historiadores para mudar o estado ou a organização das ordens. Observa-se que a quantidade de sal ou sais dissolvidos nos oceanos muda em função do tempo. A história dessa alteração é uma abordagem diacrônica e relaciona-se com o passado do atual estado da ordem existente, mas não necessariamente com uma alteração na própria ordem subjacente.
1 – Dados
Minha objeção à evolução no nível de observação científica é a inexistência de dados. Isso, estou ciente, constitui uma afirmação extrema. Talvez eu recebesse atenção mais crível se dissesse, como T. A. Goudge (3) em “The Ascent of Life”, que “a evidência é fragmentária”. Mas se assim eu fizesse, estaria tão somente seguindo uma tendência comum do pensamento não crítico. Entretanto, ao tomar a posição mais radical, desejo ser compreendido somente em termos de apoio que desenvolverei a favor da mesma.
Primeiramente, os dados fragmentários que têm sido utilizados nas obras evolucionistas são dados de uma ordem sincrônica e não de um processo diacrônico. Tomar as categorias da ordem de vida sincrônica existentes e introduzi-las num modelo de processo de alteração de cada uma delas, e então distribuir os restos fósseis fragmentários nessas categorias, de maneira nenhuma transformará esses fósseis em dados diacrônicos.
Um eminente paleontologista da Califórnia State College em Long Beach falou-me de uma escarpa na qual camadas supostamente continham milhões de anos de seqüência evolutiva da vida. Entretanto, afirmou ele não existir absolutamente evidência alguma de transição entre uma camada e a seguinte, o que o intrigava bastante. Sua explicação era que cada forma deveria ter entrado nas camadas provindo de algum outro lugar. Em outras palavras, a evolução deveria ter ocorrido em algum outro lugar.
Alguém poderia perguntar: “Como sabe você que ela não ocorreu?” Entretanto o problema é: “Como sabe você que ela ocorreu, na ausência dos dados?” Os dados comprovadores da evolução devem ser dados transicionais, entretanto existem somente dados de uma ordem existente, ou seja, uma ordem sincrônica.
Isso leva a uma segunda observação com relação à ausência de dados, a saber, que os dados são gerados através do modelo evolutivo ao invés de serem generalizados a partir de outros dados. Na sua imaginação, os homens supõem e preenchem o que o modelo requer, em vez de usar o modelo para explicar o que é observado. A geração de dados ocorre de muitas maneiras. Por exemplo, em duas sentenças White (4) salta de hipótese para fato:
Se, supusermos, como muitas autoridades, que a cultura teve início há um milhão de anos, e se datarmos o início da agricultura a cerca de 10.000 anos atrás, então o estágio de desenvolvimento cultural baseado na energia muscular do homem compreenderá cerca de noventa e nove por cento da história da cultura. Esse fato é tão significante, quanto notável.
As probabilidades também constituem outra técnica para a geração de dados históricos ou diacrônicos. Após observar as posições teóricas nos dados sincrônicos relativos a endogamia e exogamia, White (5) declara que “Podemos agora proceder ao esquema da provável fonte de desenvolvimento da sociedade humana nos seus primitivos estágios, sob o ponto de vista da endogamia”.
Ainda além, dados “condicionais” são apresentados em substituição à ausência de dados observados. Afirmações como as seguintes são feitas freqüentemente no decurso de tentativas para explicar as supostas origens evolutivas da sociedade humana:
Podemos supor, portanto, que a tendência de se unirem sexualmente mãe e filho deveria ser maior do que a tendência entre pai e filha. ... Uma união mãe-filho deveria ser menos efetiva do que uma união pai-filha, como organização para defesa própria, obtenção de alimento, e reprodução (6).
Por melhor que fosse esse raciocínio, utilizá-lo para suprir a falta de dados é somente um testemunho da sua ausência.
Os antropologistas físicos evolucionistas podem divisar como os antropologistas de há meio século usaram o modelo para criar os seus dados. Brace e Montague ressaltam que foram atribuídas ao “Homem de Neanderthal” muitas características simiescas porque isso se prestava a ilustrar um estágio da evolução. Sabe-se hoje que ele tinha braços mais curtos, em vez de compridos braços como os macacos, e que ele não andava encurvado. Além disso, o temperamento feroz animalesco que se supunha ele ter tido como um “homem da caverna” é o oposto do gorila, o qual veio posteriormente suprir um dos supostos elos da seqüência evolutiva. Brace e Montague afirmam com relação a esse dado fictício:
Mais do que somente resíduos deste libelo permanecem hoje na conversação casual, nas charges corriqueiras da impressa, em numerosos livros populares de divulgação científica e mesmo nos círculos profissionais, onde já há muito deveriam ter desaparecido (7).
Erros de uma ou duas gerações atrás são facilmente reconhecíveis; apesar disso, repetem-se sob a luz mais sofisticada de nossos dias.
Algumas poucas afirmações de Ross, não consideradas fora do contexto, destacam claramente o “poder gerador” do modelo evolucionista quando limitado a dados sincrônicos (a ênfase foi adicionada):
Ao se compreender que toda a matéria do universo ... iniciou-se como simples gás hidrogênio, e que a vida na Terra é o mais complexo sistema conhecido composto de moléculas químicas extremamente complexas, torna-se óbvio que em algum lugar e em alguma ocasião no passado houve transição partindo da simples organização química do universo primitivo, em direção à complexa organização química que constitui a vida. Sabemos que a vida teve uma origem, porque a Terra hoje é povoada por seres vivos. ... Parece haver pouca dúvida que esses ingredientes elementares da pré-vida tenham se juntado de alguma maneira em esférulas semelhantes a células e formado alguma espécie de sistema do tipo ácido proteíno-nuclêico. ... É razoável supor que eventualmente uma dessas esférulas altamente avançadas alterou-se de tal maneira que sucederam duas coisas: (1) ao ter ela atingido uma certa composição química, dividiu-se em duas esférulas filhas; e (2) cada esférula filha manteve as mesmas propriedades químicas da “jovem” esférula mãe, e repetiu-se o processo. Neste ponto uma esférula havia se tornado quase imperceptivelmente em organismo. Vida verdadeira tinha vindo à existência (8).
Assim os dados sincrônicos de uma ordem existente, adicionados à imaginação humana, produziram os dados diacrônicos faltantes. Aquilo que se não observa como dados, torna-se óbvio do ponto de vista do modelo evolucionista.
Um terceiro ponto apoiando a objeção de que a evolução não se baseia em dados, é que existem antropologistas evolucionistas que reconhecem esse fato, de uma maneira quer limitada, quer indireta. William Howells admite a ausência de dados em qualquer linha que leve ao homem moderno.
Para onde foi o Homo erectus? Os caminhos simplesmente não estão traçados. ... É esse um período em que falta evidência útil. Além do mais, a natureza da linha que leva ao homem moderno - Homo sapiens nesse sentido dado por Lineu - permanece objeto de pura teoria (9).
A admissão de Leslie White, de que a evolução não se apoia em dados empíricos, é mais indireta e talvez não intencional. É o que se acha na maneira pela qual faz ele diferença entre evolução e ciência estrutural-funcional sincrônica, e também fenômenos diacrônicos da história. Afirma White que a abordagem estrutural-funcional dos cientistas naturais é uma generalização dos dados de uma ordem sincrônica. Os historiadores, entretanto, tratam dos acontecimentos particulares, ou dados dos fenômenos diacrônicos, e não fazem generalizações. Os evolucionistas generalizam em termos da ordem temporal, ou diacrônica. Entretanto, não generalizam a partir de culturas particulares, nem de acontecimentos particulares de culturas particulares.
Os evolucionistas são deixados então sem os dados da ordem sincrônica das Ciências Naturais, e sem os dados temporais da História. O resultado é uma filosofia que não tem raízes no mundo empírico.
Um testemunho final quanto à ausência de dados provém de um esforço para suprir essa deficiência. Francis J. Ryan, escrevendo no “Scientific American” declara que “há abundante evidência da evolução, mas tem sido extremamente difícil estudar o processo em laboratório” (10). “A razão”, afirma Ryan, “é que a evolução é exasperadamente lenta. O homem atual difere biologicamente pouco do homem de Ur, de 5000 anos atrás. Quase em nenhum lugar na natureza pode-se ver a evolução em ação” (11).
Mas, então, onde está a evidência, ou onde estão os dados? A afirmação inicial de Ryan fornece a chave: “Nossas idéias sobre a evolução hoje, aproximadamente 100 anos após ter Charles Darwin lançado o seu conceito imensamente frutífero, ainda estão grandemente baseadas em observação e dedução, em vez de na experiência” (12). Em outras palavras, na ausência de dados processuais ou diacrônicos, os dados de uma ordem sincrônica provenientes de diferentes pontos no tempo são dispostos por dedução na moldura diacrônica da evolução.
Ryan sugere que o processo de evolução possa ser estudado em bactérias que levam somente vinte minutos para produzir uma geração, enquanto que nos seres humanos esse tempo atinge vinte anos. Assim, em dois anos as bactérias podem passar por mais gerações do que o homem em 1.000.000 de anos.
Um caso é levantado com a observação de que, devido a mutações aleatórias, produziram-se bactérias resistentes à penicilina após a divulgação da penicilina. É esse, de fato, um caso de mutação em caracteres herdados e de seleção natural, mas o produto final não é evolução. As bactérias permanecem bactérias ainda, e as gerações de centenas de anos nada mais produziram além das mesmas bactérias.
2 – Razão e Lógica
Minha segunda objeção antropológica à evolução é ser ela intrinsecamente irracional. Os evolucionistas freqüentemente atribuem a pecha de irracionais aos que a eles se opõem. É o que fez Goudge, por implicação, quando afirma: “Nenhuma pessoa razoável familiarizada com a evidência, pode duvidar de que o homem é um produto da evolução” (13). Mostrei que não há evidência para o processo diacrônico de evolução, e tentarei agora mostrar que a idéia da evolução transgride as exigências da razão.
Primeiramente, a essência da característica irracional encontra-se na tentativa de aplicar o princípio do uniformismo, da abordagem sincrônica da ciência, à explicação evolucionista dos fenômenos diacrônicos ou temporais. Acha-se uma clara afirmativa sobre o princípio do uniformismo no trabalho de Berry “Growth of a Prehistoric Time Scale” (Crescimento de uma escala de tempo pré histórica): ... “Processos e funções naturais observáveis hoje têm estado a ocorrer da mesma maneira básica que nos tempos passados” (14). Goudge descreve essa aplicação sem reconhecer o problema irracional:
Um outro exemplo ... é o “princípio uniformista” ... A sua função é tornar possível a extrapolação regressiva no tempo, de resultados obtidos a partir da pesquisa dos organismos existentes hoje. O princípio afirma, em linhas gerais, que fatores e leis descobertos agora como sendo operativos no domínio biológico, foram operativos através de toda, ou da maior parte da história da vida. Um evolucionista tem de esposar esse princípio, se tiver de empregar as descobertas de ciências como a Genética, para construir explicações sistemáticas dos fenômenos do passado remoto. Se não o esposar, a sua teoria não funcionaria. Mas novamente, a situação tem de ser entendida em termos mais do que instrumentais, pois a doutrina da evolução deixaria de ser inteligível não fosse o princípio do uniformismo descrever o caso. Deve ser verdadeiro que os fatores e leis biológicas que se reconhecem hoje como operativos, estiveram em ação no passado. É essa uma afirmação incapaz de ser demonstrada dentro da teoria evolucionista, porque ela funciona como uma pressuposição metafísica daquela teoria(15).
Hipóteses e pressuposições metafísicas não devem ser desacreditadas como tais. Constituem elas uma parte necessária do desenvolvimento de todo o conhecimento cientifico. O fator irracional é encontrado quando a necessária pressuposição metafísica se acha incongruente com a própria teoria.
O princípio sincrônico de uniformismo envolve o conceito de que acontecimentos ocorridos na natureza, no passado, presente e futuro, têm lugar uniformemente. Sem essa hipótese, o universo seria caprichoso e os cientistas não poderiam fazer generalizações.
Entretanto, quando essa hipótese é utilizada numa explicação diacrônica de como as coisas vieram a existir, ela se torna inerentemente inconsistente, pois fazer isto implica a hipótese de que as coisas no passado ocorreram como as coisas hoje observadas, embora as coisas observadas ainda não fossem existentes. Os evolucionistas supõem que pelo menos algumas das regularidades do presente não existiam no passado, ao mesmo tempo em que utilizam o princípio uniformista como se todas as coisas no passado ocorressem de conformidade com as regularidades hoje observadas.
Para tornar nosso raciocínio mais específico os evolucionistas supõem que em certa época não existia o fenômeno homem; portanto, as coisas no passado não estavam ocorrendo em termos deste fenômeno. Por outro lado, fenômenos que hoje existem estavam em operação para trazer o homem à existência, muito embora não se observem hoje tais fenômenos operando para produzir o mesmo resultado.
Indo mais além na escala evolutiva, os evolucionistas suporiam que as regularidades biológicas, hoje em operação, em certa época não estiveram operando porque ainda não tinham vindo à existência. Assim novamente todas as coisas no passado não estiveram ocorrendo de conformidade com as regularidades observadas hoje, exceto naturalmente as regularidades de natureza inorgânica. Entretanto, estas últimas estiveram em operação, mas não de conformidade com processos atualmente observados, pois estavam em operação, para produzir vida.
Suponhamos, contudo, que forcemos a escala evolutiva para uma conclusão lógica e razoável, e procuremos as origens do inorgânico. Nesse ponto, nenhum dos processos que nós observamos hoje estaria em operação. Nesse ponto, as hipóteses do uniformismo, de que os evolucionistas têm-se apossado como pressuposição metafísica, estariam totalmente eliminadas pelas hipóteses diacrônicas da própria evolução. Os evolucionistas, portanto, para utilizar o princípio básico do uniformismo, devem tomar duas decisões racionalmente insustentáveis:
(1) Decidir que parte das regularidades da natureza hoje observáveis operaram no passado para trazer à existência todas as demais regularidades. Essas regularidades deveriam ter feito então o que hoje não mais fazem, constituindo assim uma violação do princípio do uniformismo.
(2) Decidir até que ponto a hipótese uniformista retroagirá antes de ser totalmente negada.
A incongruência entre o principio do uniformismo e a evolução leva-nos a focalizar nossa atenção na transição entre as três grandes categorias: (a) matéria; (b) vida; e (c) cultura. Kroeber, e muitos antropologistas desde então, tem-se referido a essas categorias como o inorgânico, o orgânico, e o superorgânico. Temos mostrado que estão ausentes os dados de transição dentro das subdivisões destas categorias.
A suposta transição de uma categoria para outra tem exigido um tremendo esforço de imaginação. Como afirmado anteriormente, não se deve desconfiar da imaginação e da especulação meramente devido ao fato de se constituírem em especulações. É o caráter irracional da especulação que constitui a base para objeção.
(a) – Matéria
O problema da origem da primeira categoria, a de matéria, produziu uma ampla gama de respostas que não podem preencher os critérios da racionalidade. Exemplificarei com três delas somente para ilustrar:
(1) A teoria da explosão inicial na qual uma molécula grandemente concentrada de matéria pre-universo explode para produzir o atual universo material ordenado.
(2) O universo material como produto de uma nuvem de poeira primordial que presumivelmente era matéria.
(3) A posição mais racional das três, em que os teóricos racionalmente desistem de tratar deste problema, considerando-o além do poder de raciocínio do homem.
Todas estas, bem como as teorias do regime permanente e do regime cíclico, apresentam-nos matéria existente eternamente, e negam portanto as origens que tentam explicar. O deus do materialismo é obviamente inerente a elas.
Como se pode, porém, racionalmente explicar o início da vida ou do homem numa certa época, a partir de matéria existente eternamente? Como poderia ela existir eternamente sem produzir vida, e então, em certa época, produzir o que não houvesse produzido durante toda a eternidade? Talvez uma eternidade de ciclos em que universos e humanidade surgissem a desaparecessem fosse a única resposta consistente.
(b) – Vida
O problema da evolução da matéria para a vida pode não ser tão frustrante para a mente especulativa, embora não se apresente sem características irracionais. Num programa documentário do “National Geographic” recentemente televisionado, falou-se para os espectadores sem a mínima sombra de dúvida, que em alguma época do obscuro e distante passado duas moléculas gigantes se uniram tornando-se reprodutivas. A vida, que depende de um código genético para sua reprodução, e que, unicamente ela, produz o código genético, é apresentada como vinda à existência por uma congruência fortuita dos constituintes materiais da vida. Não sou biologista, mas os argumentos apresentados contra isso pelo Dr. Duane Gish têm sido racionalmente convincentes para mim (16).
Entretanto, gostaria de ilustrar a irracionalidade da evolução neste ponto referindo-me a outro biologista, George Wald. No número de agosto de 1954 do “Scientific American”, Wald apresenta o seu raciocínio em um artigo intitulado “A Origem da Vida”. Aí Wald apresenta a moderna evidência científica, como estabelecida por Pasteur e outros, contra a geração espontânea da vida.
Ele mostra então como a complexidade dos fenômenos da vida fazem ficar além da imaginação pensar que pudesse ter surgido a vida por acaso a partir do inanimado. Sobre isso diz então: “Apesar disso, aqui estamos - como resultado, creio, da geração, espontânea” (17). Sua razão para essa crença é o fato de recusar-se a aceitar a única alternativa. Wald expõe seus motivos:
O ponto de vista razoável foi crer na geração espontânea; a única alternativa era crer num ato inicial único de criação sobrenatural. Não há uma terceira posição. Por esta razão há um século muitos cientistas escolheram encarar a crença na geração espontânea como uma necessidade filosófica. ... A maior parte dos modernos biologistas, tendo visto com satisfação a queda da hipótese da geração espontânea, e não desejando aceitar a crença alternativa na criação especial, fica sem nada (18).
Embora a racionalidade dessa escolha de uma fé não seja demonstrada, o seu caráter irracional é visível na sua defesa.
Wald inicia supondo que “a cada acontecimento pode-se associar uma probabilidade” (19). Usa ele como modelo de acontecimento a queda de uma moeda. É esse, entretanto, um acontecimento observável, repetitível. A geração espontânea da vida não é dessa natureza; de fato, não foi sequer estabelecido por Wald nesse ponto de argumentação, como constituindo ela um acontecimento.
Apesar disso, continua ele raciocinando que, não importa quão pequena a probabilidade de ocorrer um acontecimento, é ela aumentada pelo número de tentativas ou do tempo envolvido. Se a probabilidade é de somente uma em um bilhão para um acontecimento ocorrer em um ano, seria quase uma certeza a sua ocorrência em um bilhão de anos. Entretanto, Wald assim procede sem estabelecer a probabilidade da geração espontânea ocorrer em um ano ou em bilhões de anos. A chave para essa posição irracional é que não há probabilidade possível de ser estabelecida para esse acontecimento, em qualquer período de tempo. E zero multiplicado por qualquer número de anos permanece ainda zero.
(c) – Cultura
Finalmente, a tentativa de especular a respeito da transição da vida precultural para a cultural, ou dos animais inferiores para o homem, está repleta do mesmo caráter irracional. White diz sobre a origem da cultura:
Podemos supor que a cultura veio à existência da seguinte maneira: a evolução neurológica em uma certa linha, ou linhas, dos antropóides, culminou finalmente na habilidade para simbolizar. O exercício dessa habilidade trouxe à existência a cultura, perpetuando-a em seguida (20).
Não obstante, o homem hoje, com tais faculdades, depende da associação com outros que possuam linguagem e cultura, não somente para sobreviver, mas para aprender uma linguagem e a cultura a ela associada. White quis dizer que o homem, possuindo a faculdade de simbolizar, sem cultura, criou a cultura, e então passa a afirmar que é a cultura que determina o homem, e que o homem não pode sequer modificar a cultura, e muito menos criá-la.
É nessa espécie de círculo vicioso que os pensadores especulativos caem sempre que tentam usar o princípio sincrônico do uniformismo em um esforço evolucionista para ligar as três grandes categorias de matéria, vida e cultura.
3 – Teoria
Minha terceira objeção antropológica à evolução é não ser ela uma teoria científica. Isso parcialmente é conseqüência das duas primeiras objeções registradas. Se não há dados para explicar, dificilmente pode constituir uma teoria científica. Se a evolução é utilizada para gerar dados, ao invés de explicá-los, dificilmente pode ser-lhe atribuído o status de ciência. Porque os dados são gerados, em vez de explicados, por meio da evolução, então a evolução se sujeita à prova científica, ou prova de falsificação.
As idéias de Darwin não constituíram verificação de uma hipótese científica. Nem tampouco foi jamais a evolução posta à prova, pois não se assemelha a teorias científicas que são apoiadas, modificadas ou descartadas no processo de desenvolvimento da investigação científica. O fato de se submeter a evolução à prova é encarado mais como heresia, do que como um procedimento heurístico da ciência.
Finalmente, desejo apoiar a posição de que a evolução não é uma teoria científica, porque, ao contrário, é uma estrutura de valores. Primeiramente, a evolução é uma estrutura de valores porque é uma perspectiva no tempo. A maneira pela qual os homens de todas as culturas ordenam a sua vida, está de acordo com a maneira em que olham ao passado e ao futuro e os focalizam tendo em vista as alternativas do presente. Através da evolução os homens supostamente ganham um passado que ultrapassa sua imaginação prática, indo até o domínio não racional amoral dos animais inferiores. Os evolucionistas têm pouco mais além de incerteza a oferecer para o futuro da raça; e para os indivíduos – nada mais do que a morte. Constitui mais do que uma correlação o fato de que as ordens morais das sociedades modernas estão desmoronando à medida em que a perspectiva da evolução mais e mais é introduzida nas mentes dos homens na posição de domínio inquestionável.
Em segundo lugar, a evolução é um valor porque seus adeptos localizam o absoluto na natureza material. A divindade materialista da evolução, embora desconhecida, é ressaltada em uma afirmação de George G. Simpson:
O mistério fundamental está além do alcance da investigação científica, e provavelmente da mente humana. Não há nem necessidade nem desculpa para a postulação de intervenção não material na origem da vida, no aparecimento do homem, ou em qualquer outra parte da longa história do cosmos material. Não obstante, a origem desse cosmos e os princípios causais de sua história permanecem inexplicados e inacessíveis à ciência. Aí se esconde a causa primeira buscada pela teologia e pela filosofia. A causa primeira não é conhecida, e suspeito que jamais o será, pelo homem vivente. Poderemos, se assim desejarmos, adorá-la em nossa maneira própria, mas certamente não a compreendemos (21).
Esse absoluto inescrutável, escondido na existência da matéria, além do alcance da ciência, é a posição de uma divindade, e portanto de valores absolutos.
Finalmente, a evolução é um sistema de valores porque seus proponentes fazem assertivas de valores relativamente ao homem. Simpson compreende que a evolução deixa o homem com necessidade de uma ética, bem como que o mecanismo evolutivo da sobrevivência do mais apto dificilmente constitui uma base adequada para a ética humana. Chega ele finalmente à conclusão que, desde que o processo amoral da evolução tenha produzido a criatura racional e moral chamada homem, o homem é obrigado a obter esse conhecimento e fazê-lo conhecido a outros. O objeto dessa obrigação moral é necessariamente limitado aos seres humanos, pois torna-se difícil vislumbrar a base de uma obrigação moral em um processo amoral.
O que quer que isso signifique, o que temos não é uma teoria científica, mas um aspecto de relacionamentos sociais tentando dar algum sentido de direção moral para o homem. Necessita-se desesperadamente de direção. Porém, não está convincentemente claro como é que o conhecimento de que minha existência como um ser moral constitui um produto de um processo amoral chamado evolução, pode dar-me um senso de direção moral. Nem tampouco está claro como o testemunhar daquele processo constitui direção moral. Essa última afirmação não é, entretanto, apresentada como objeção antropológica. Deveria, porém, ser catalogada como uma objeção de antropologia aplicada, porque sua ineficácia é óbvia.
Resumo
Em resumo, como antropologista, faço objeções à evolução com apoio nas bases antropológicas que apresentei. Não há dados relativos à evolução. Seus defensores usam a idéia da evolução para criar ou gerar dados pela apropriação de dados sincrônicos da ciência, em um esforço para usar aquela própria ordem sincrônica para explicar como veio ela à existência. O processo de utilizar categorias sincrônicas da natureza como modelo do desenvolvimento diacrônico daquela ordem, é um processo intrinsecamente irracional.
Todas as categorias referentes a matéria, vida e cultura, têm, de fato, um passado, e sua história, sendo reconhecível, leva-nos àquele passado, Entretanto, nem os dados nem a razão justificam a disposição de macacos fósseis e do homem fóssil em uma seqüência de desenvolvimento do macaco ao homem.
E finalmente, a tentativa de atingir as origens através de processos temporais não observados, produz somente uma estrutura de valores e não uma teoria científica. Como tal, as origens últimas jamais são atingidas. De fato, os adeptos tentam achar o absoluto escondido em uma existência material eterna e amoral.
A deificação da matéria não deve ser confundida com os fundamentos metafísicos da investigação científica da matéria. O estudo científico da ordem existente da criação deve ser necessariamente mantido distinto de qualquer consideração a respeito de como essa ordem veio a existir. Ao tentar ignorar essa distinção necessária, os evolucionistas seguem uma abordagem irracional dos dados que são produtos de sua própria especulação, resultando em uma estrutura do valores ao invés de uma teoria científica.
Referências
(1) White, Leslie A. 1959. The evolution of culture. McGraw Hill Book Company, Inc., New York, pp. 70, 71.
(2) Ibid., pp. 29, 30.(3) Goudge, T. A. 1961. The ascent of life, The University of Toronto Press, Toronto, p. 133.
(4) White, Leslie A. Op. cit., pp. 44, 45.
(5) Ibid., p. 67.(6) Ibid., pp. 91, 92.
(7) Braces C. L. and M. F. Ashley Montague. 1965. Man’s evolution, an introduction to physical anthropology. The Macmillan Company, New York, p. 130.
(8) Ross, Herbert H. 1966. Understanding evolution. Prentice-Hall, Inc., Englewood Cliffs, pp. 35, 36, 41, 43.
(9) Howells, William. 1966. Homo erectus, Scientific American, 215:53.
(10) Ryan, Francis J. 1953. Evolution observed, Scientific American, 189:78.
(11) Loc. cit.(12) Loc. cit.(13) Goudge, T. A., Op. cit., p. 133.
(14) Barry, William B. N. 1968. Growth of a prehistoric time scale. W. H. Freeman and Company, San Francisco.
(15) Goudge, T. A., Op. cit., p. 157.(16) Gish, Duane T. 1965. Critique of biochemical evolution. Creation Research Society Quarterly,
1(2):10-12. 1970. The nature of speculations concerning the origin of life. Creation Research Society Quarterly,
7(1):42ff. 1971. Book Review of Biochemical Predestination. Creation Research Society Quarterly, 8(4):277-280.
(17) Wald, George. 1954. The origin of life, Scientific American, 191:46.(18) Wald, George. Op. cit.
(19) Ibid., p. 47.(20) White, Leslie A., Op. cit., p. 6.(2l) Simpson, G. G. 1951. The meaning of evolution. Mentor Books, New York. pp. 134, 135.
Fonte: Sociedade Criacionista Brasileira
Um comentário:
O que esperar de um artigo escrito por um criacionista...
http://www.asa3.org/ASA/PSCF/1972/JASA3-72Blom.html
Nada além desse rol de baboseiras que ad nausean já rebati neste blog.
Em resumo o cidadão ai é mais um que supostamente detém credenciais científicas e se finge de ignorante em prol de sustentar sua ideologia.
Como dizia o Boris Casoy: ISSO É UMA ... VERGONHA!!!!
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