Breve retrospetiva histórica
A Igreja Adventista do Sétimo Dia foi estabelecida há mais de século e meio com um propósito claro e definido. O seu surgimento e formação, não foram fruto de um acaso qualquer, de uma simples fusão de interesses e objetivos comuns, tampouco o resultado de um esporádico despertamento religioso. Pelo contrário, a mão divina esteve ao leme deste movimento desde o primeiro momento, suscitando entre as fileiras do povo crente de então, um remanescente para proclamar a última mensagem de advertência aos habitantes da Terra (Apocalipse 14:7).
Desde esses idos entre 1840 e, na sua forma já organizada, 1860, o mundo sofreu mudanças tão drásticas como nunca antes em qualquer fase da História. A ciência e o conhecimento (secular e espiritual) multiplicaram-se enormemente (Daniel 12:4), ao ponto de hoje vermos em poucos meses progressos que durante milénios foram simplesmente impensáveis. A própria sociedade aceitou, talvez forçada, essas mesmas mudanças, apresentando hoje características tão divergentes e mutáveis que quase não há tempo para as catalogar e gerir.
A Igreja Adventista no mundo atual
A própria Igreja Adventista do Sétimo Dia é prova disso; desde um pequeno grupo de crentes, primeiro na América do Norte, depois espalhando-se gradualmente por várias partes do mundo (Mateus 28:19), estamos hoje transformados numa comunidade mundial que cresce a um ritmo superior ao da própria população mundial. Em cada ponto do planeta onde há presença adventista, conseguimos identificar realidades distintas de todos os outros, quer sejam culturais, sociais, ambientais, ou de qualquer outra ordem.
Esta situação resulta tanto em desafios como em oportunidades. Daí que, mais do que elaborar a habitual lista de competências que a Igreja deve manter no mundo – que de tanto repetida e tão pouco posta em prática, já se banalizou como recorrente ferramenta de discurso a partir dos nossos púlpitos – há que tentar perceber o que pode cada Igreja ser na respetiva comunidade onde está inserida, que cumpra com a missão evangélica, de resto inalterável, que lhe foi dada no princípio, sem abdicar de qualquer dos valores e princípios que são inerentes ao nome Adventista do Sétimo Dia.
A Igreja Adventista do Sétimo Dia tem hoje forte presença nas áreas da saúde, educação e auxílio humanitário por todo o mundo. Onde quer que haja necessidade ou oportunidade, ali está a mão auxiliadora da Igreja, fazendo-se reconhecer como uma força válida na procura do bem-estar e realização do ser humano, sendo admirada por governos e instituições. Nunca como motivo de orgulho vão, que leve a esconder as nossas responsabilidades individuais atrás do que está feito, deve ser este um forte incentivo à continuação dos esforços que a Igreja tem de provocar impacto positivo e decisivo onde quer que esteja.
A Igreja Adventista vista pelo lado de dentro
Entre os membros da Igreja, muitos há vivem numa quase solidão congregacional, onde os seus momentos espirituais se resumem à Lição da Escola Sabatina e à frequência da Igreja no Sábado de manhã. O seu contato pessoal com a liderança da Igreja resume-se à – por vezes mecânica e robotizada – saudação no final do Culto de Adoração. A palavra irmandade apenas torna formal um conceito, cuja realidade é bem distinta. Eles estão sozinhos, e precisam ser fortalecidos.
Ao contrário daquilo que é habitual entre aqueles que normalmente ocupam cargos de liderança na Igreja, uma boa parte dos crentes tem poucos ou mesmo nenhum outro familiar que partilhe da fé Adventista do Sétimo Dia. As influências que os rodeiam a cada instante são totalmente opostas àquilo que aprendem nos nossos templos ou com a nossa literatura. Estão permanentemente expostos a conversas e práticas que não se coadunam com a sua forma de pensar e atuar. Muitos são crentes recentes que se sentiram tão apoiados no período antes do batismo, para agora se verem como apenas mais um elemento na (e não da) comunidade.
Outros há que, membros há muito tempo, apenas ocupam formalmente os bancos da Igreja. Satisfazem-se em fazer parte numericamente, julgando dessa forma cumprir os requisitos para a salvação. Pior ainda, é verificar que enquanto as Escrituras fazem o constante apelo ao arrependimento e conversão como tema maior, muitos membros Igreja Adventista do Sétimo Dia cedem cegamente às conveniências imediatas, passeando o seu suposto e inquebrável estatuto de pré-salvação – algo que, de resto, apenas nos torna túmulos caiados (Mateus 23:27), nada mais.
Ser vs. fazer e dizer
Mantendo-se, como sempre, fiel à Sua promessa, deixou-nos o Senhor através da pena inspirada claras indicações adicionais de como nos devemos comportar e agir nestes últimos dias.
E, rebuscando os velhos compêndios que tanto valorizamos e nos distinguem – juntamente, e acima de tudo, com esse Eterno volume que é Bíblia – podemos olhar para o nosso movimento hoje, em particular no nosso país e dizer que estamos a mostrar Jesus ao mundo? Podemos afirmar que este movimento corre hoje para o encontro com o Senhor nos ares (I Tessalonicenses 4:17)? Ou estamos tão distraídos na nossa mornidão laodiceana que nem nos apercebemos do vómito divino (Apocalipse 3:16) que está prestes a atirar-nos para fora do Reino do Altíssimo?
Num mundo cada vez mais competitivo e arrasador para aqueles que perdem ou vão ficando desatualizados, que efemeramente honra vencedores e corrosivamente destrói os derrotados, a Igreja não pode correr o risco de valorizar mais o dizer e o fazer, em detrimento daquilo que provocou a real mudança de vida nos nossos pioneiros: o ser Adventista do Sétimo Dia (Levítico 20:26).
Exige-se que as comunidades adventistas, antes de pensarem sequer no que podem fazer ou em como podem atuar no lugar onde estão, se preparem para essa tarefa, sendo Adventistas do Sétimo Dia em tudo o que diga respeito à sua vida. Ser Adventista do Sétimo Dia não é um evento, um programa; é um estilo de vida. E enquanto cada membro não for capaz de se deixar transformar por Jesus num verdadeiro Adventista do Sétimo Dia, a Igreja, como grupo que reflete inexoravelmente as condições individuais, igualmente nunca o será na sua essência real, prática.
Os líderes da Igreja, principalmente Pastores mas também os seus oficiais mais destacados, precisam rever seriamente as suas posturas perante a vida.
Perguntemo-nos: através da nossa vida diária, que testemunha mais do que as nossas palavras, demonstramos estar a construir para a eternidade ou somente para este mundo? Os locais que frequentamos, as ocupações e entretenimentos que desfrutamos, as construções e compras que fazemos, manifestam uma disposição para as coisas do alto, ou uma distração e conformidade com as coisas de baixo (Colossenses 3:2)?
Mais cegos ficamos quando cedendo à tendência fácil de ser igual ao que nos rodeia, corremos o risco de perder o nosso foco ao gastamos demasiadas energias e recursos (de toda a espécie) em fórmulas ultra-modernas e técnicas super-avançadas de fazer avançar o evangelho. E sendo que novos métodos e estratégias não devem ser em caso algum descurados, não devemos valorizar demasiado a forma em detrimento do conteúdo.
Ao nos tornarmos demasiado profissionais, esquecemos o contato de amor, de amizade e companheirismo; e em vez de produzirmos almas para a salvação, quando muito apenas tentamos acrescentar números à estatística…
O que procura o mundo hoje?
As páginas dos jornais estão diariamente carregadas com notícias de índole económico, financeiro e social, que embora espalhem o pessimismo entre as pessoas, refletem a realidade do mundo de hoje. Talvez também por isso, uma qualquer visita rápida a uma livraria é o suficiente para nos apercebermos da quantidade, até há bem pouco tempo impensável, de livros sobre auto-ajuda, auto-realização, a procura da felicidade, etc..
Há que parar e perguntar: porque razão isto acontece? O que, de fato, procuram as pessoas?
Num mundo que de problema em problema, apenas dá a garantia de não ter solução para eles, surge no coração de muitos a necessidade de procurar por si próprios a segurança que não conseguem encontrar há muito. Desencantados com governantes e líderes em cujas mãos não está mais do que tentar evitar males maiores, procuram uma saída que lhes traga a paz, o sossego à alma e uma esperança maior em relação ao futuro.
Com certeza que encontraremos também pessoas que simplesmente não quererão ocupar as suas mentes com qualquer assunto espiritual, preferindo viver aquilo a que chamam os prazeres da vida. Para esses, é uma questão de tempo, se o tiverem, para se aperceberem que, na realidade, este mundo pouco tem de satisfatório. E nesse momento, passarão para o grupo descrito anteriormente, se souberem responder ao apelo do Senhor.
O papel a desempenhar pela Igreja Adventista
Em face disto, a Igreja Adventista do Sétimo Dia deve assumir declaradamente a sua missão em anunciar Jesus ao mundo perdido. E aqui, ao contrário de quase tudo aquilo que nos rodeia, nada de essencial mudou ainda em 160 anos…
Naturalmente que contextualizando a Igreja na sociedade em que está inserida, encontramos uma explosão do evangelho nos países menos ricos e/ou desenvolvidos, e grandes dificuldades de expansão nas zonas onde o secularismo prevalece. Mas em todos os lados, encontraremos pessoas que querem ouvir falar de Jesus.
O momento crucial da História em que nos encontramos não pode ser assumido levianamente. Por todo o lado se ouvem notícias e rumores da degradação constante das condições de vida – talvez não seja difícil comprovar que a palavra mais usada hoje em todo o mundo é ‘crise’.
Como Adventistas do Sétimo Dia, devemos perceber que a maior crise de todas não é aquela propagandeada pelos mídia. Enquanto os poderosos do mundo entretêm as pessoas com discursos, estratégias e supostas medidas de resolução, os Adventistas do Sétimo Dia precisam urgentemente refocar as suas energias na urgente mensagem da Segunda Vinda de Jesus, tornando-a, primeiramente, o ponto central das suas vidas, para depois a entregarem ao seu próximo.
Este propósito, aliado à falta de respostas por parte de uma sociedade cada vez mais agonizante, fará brilhar a luz que o evangelho fala, e à qual a alma honesta, ainda em trevas, não ficará indiferente.
Áreas de intervenção
No âmbito das atividades e programas da Igreja Adventista do Sétimo Dia, sugiro alguns aspetos práticos para os quais deverá haver especial atenção.
a) Preparem-se programas de Escola Sabatina eficazes, completos em conteúdo, com profundo estudo e dedicação durante cada dia da semana por parte dos seus Animadores;
b) Os Pastores e outros pregadores, dediquem-se à meditação e oração frequente, não apenas e quando pela responsabilidade imposta de ocupar o púlpito;
c) Sejam apresentadas ao povo pregações que reflitam a real e profunda vocação da Igreja: o arrependimento dos pecados e a proclamação da breve volta de Jesus;
d) Potencie-se o maior número possível de irmãos nas diferentes tarefas do Sábado de manhã, e não apenas naquelas que são tidas como secundárias;
e) Organizem-se reuniões de Sábado à tarde atrativas e produtivas em real conteúdo bíblico, e não meros passatempos e entretenimentos para ocupar a mente por momentos;
f) Entreguem-se responsabilidades a jovens (desde a adolescência) consagrados que sirvam de exemplo, incentivo e liderança para outros;
g) Renovem-se as reuniões de oração para que não constem de um fardo a meio da semana mas de um vibrante refrigério, com hinos, testemunhos, etc.;
h) Promovam-se programas de caráter profundamente evangelístico, com forte empenho e entrega pessoal e de relacionamento, em que a componente técnica seja o mais discreta possível;
i) Visitem-se os membros e amigos da igreja nos seus lares, estude-se ali a Bíblia e transmita-se uma palavra de amizade, ânimo e conforto que saia do coração e não de lábios pré-formatados;
j) Os membros e respetivas famílias, principalmente os que residem mais afastados da igreja, reúnam-se nas casas estudando a Bíblia, o Espírito de Profecia e orando.
Conclusão
O tempo para se ser transformado pela graça de Deus é hoje (Hebreus 3:13, 15). Em breve não haverá mais dia para proclamar a mensagem. Por muito que pensemos ser essa uma responsabilidade alheia ou esquecida, está nas mãos de cada Adventista do Sétimo Dia abreviar o retorno majestoso do Rei no Universo.
Deus chama hoje cada membro da Igreja Adventista do Sétimo Dia a dar esse passo em frente na Sua direção. Deus quer que cada alma provoque um impacto no lugar onde está ou para onde for chamado. No entanto, só o poderá fazer depois de renovada e transformada pelos méritos do Salvador do mundo.
Está nas mãos de cada membro da Igreja Adventista do Sétimo Dia tomar a decisão de se entregar mais ao Senhor. Ao deixar de vez as cadeias que o prendem a esta terra estéril, prepare-se ele para o grande dia da volta de Jesus e ajude outros a fazer o mesmo.
Então, o fim chegará. E, como diz a pena inspirada, o pequeno rebanho finalmente encontrará um lar.
P.S.: esta reflexão foi escrita a pensar e tendo em conta a realidade da Igreja Adventista do Sétimo Dia em Portugal. Cada leitor que a contextualize à sua realidade, caso não seja a mesma que foi objeto do artigo.
Fonte: O Tempo Final
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Nota: Concordo com todas as críticas expostas neste artigo e quero ajudar a melhorar a IASD onde congrego, aplicando as sugestões de melhorias também escritas neste, na parte que me cabe. Todo adventista do sétimo dia deveria ler este artigo, pois trata-se de uma oportuna exortação para que acordemos do "sono laodiceiano" e trabalhemos com todo empenho na obra do Senhor. Deus espera por nós para poder voltar...
quinta-feira, 16 de abril de 2009
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